Uma carta aberta de
autoria de uma professora da rede estadual de educação do Rio Grande do Sul, está circulando nas redes sociais e tem recebido centenas de elogios. Na carta a
professora Carla Sotero, faz um desabafo contra a paralisação de três dias, ao
tempo que faz uma declaração de amor a profissão e compromisso com a educação e
seus alunos.
Confira a integra da
carta:
“Odeio…odeio quando falam
de forma generalizada da classe dos professores estaduais.
Faço parte deste grupo por
opção, e não por obrigação. E o dia em que eu estiver descontente, aborrecida,
procurarei outra forma de me realizar, afinal, com todas as mazelas, me
qualifiquei muito pra fazer o que faço.
E me realizo muito,
acreditem…acho que por isso faço muito bem, e assumo sem vaidade.
Na atual conjuntura, não
vejo esta paralisação ou greve, como queiram chamar o movimento, como oportuna.
Eu ainda nem conheço ao
menos meus alunos deste ano que, por óbvio, não têm culpa alguma de fazermos
parte de um contexto histórico onde não tivemos, até o presente momento, um
sindicato que pudesse nos representar à altura de uma modificação fundamentada.
Trazemos nas costas um
Plano de Carreira elaborado em pleno regime militar, retrógado e engessado.
Tudo evolui: a medicina, a
engenharia, as artes… mas muitos educadores ainda estão enraizados numa
situação perdida e passível urgentemente de modificação. E os educadores
modificam ou não a educação.
Nosso plano de carreira
deve ser reformulado, como as leis, as normas, as estradas, os viadutos, a
comunicação… enfim, tudo que careça de um estudo sensato e focado no melhor de
cada área.
Não farei greve pra
concordar com um grupo que não pensa no coletivo, mas apenas em seu umbigo
prestes a aceitar algum beneficio.
Não farei greve onde
houverem representantes de um governo caótico e perdido, em que de um lado se
luta e de outro se comemora alianças.
Não farei greve enquanto
meu compromisso maior são seres humanos, em especial num espaço de
vulnerabilidade social onde minha presença e ação vai muito além um estático
conteúdo.
Não farei greve enquanto
conhecer as famílias e saber que, se não estiverem na escola, seus filhos
ficarão à margem de uma realidade sem proteção e alimento.
Não farei greve enquanto
eu aceitar ser professora… ser responsável, a cada dia, pela construção de uma
rua, de um bairro, de uma cidade melhor.
Não farei greve com base
na decisão de uma minoria.
Não farei greve enquanto
eu ver que, cada dirigente de sindicato, usa os professores para degrau
político.
Não farei greve até que me
mostrem uma saída melhor, que não seja a de prejudicar tantos e tantos sujeitos
em desenvolvimento.
Me desculpem, mas não me
colocarei como peça de manobra.
E vejam, em momento algum
me vitimizo, em momento algum acuso alguém. Somente me posiciono face à
história, face às minhas escolhas.
sabem o quanto sou autêntica e
transparente.
Se forem participar de
deste ou de outro movimento, desejo sorte.
Se também encontrarem
outra forma de mudar este quadro complexo, sem prejudicar meu objetivo maior
que é o aluno em sala de aula…contem comigo.
Também não peço desculpas
se alguém se sentir ofendido…todos me conhecem e sabem o quanto respeito o
sentimento e ideia do outro.
Só por favor me deixem ser
o que sou… e segunda-feira estarei em sala de aula sim, pois para os meus
alunos, em pleno início de período letivo eu digo…SIM!
Carla Sotero
com muito orgulho
Professora de Educação Física
com muita luta, Mestre em Educação.