A delação premiada do
ex-executivo da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, joga sombras sobre toda a cúpula
do governo de Michel Temer (PMDB), estando ele próprio sido relacionado em
casos de corrupção, e revela como uma empreiteira comprou o Senado, a Câmara e
integrantes do governo. Melo é apenas um dos 77 executivos que vão abrir a
boca. Ele ocupou os cargos de diretor de Relações Institucionais e
vice-presidente da Odebrecht. Conviveu como poucos com o poder.
Nas 82 páginas em que
mostra como comprou Brasília, ele cita, além de Temer, os principais auxiliares
do presidente, como os ministros Eliseu Padilha e Moreira Franco – ambos do
PMDB – e os presidentes do Senado, Renan Calheiros (também peemedebista) e da
Câmara, Rodrigo Maia (DEM).
Medida provisória
Segundo o executivo,
medidas provisórias, projetos de lei e Comissões Parlamentares de Inquérito
eram negociados nas duas casas legislativas. Medidas importantes para o país
entraram no balcão de negócios, como a MP que ficou conhecida como Guerra dos
Portos, a tributação de lucros no exterior, e a alterações no Imposto sobre
Produtos Importados (IPI).
No Senado, conforme
relatou Melo, quem comandava o esquema era Romero Jucá (PMDB), hoje líder do
governo Temer. Ele teria recebido R$ 22 milhões em propina, que dividiu com o
presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB), e com o senador Eunício Oliveira
(PMDB), além de outros parlamentares.
“De forma clara e
objetiva: eu e o Senador tínhamos a convicção de que os apoios aos pleitos da
empresa seriam posteriormente equacionados no valor estabelecido para
contribuição a pretexto de campanha eleitoral, fosse ela realizada de forma
oficial ou via caixa 2. Eu solicitava a aprovação das contribuições ao senador
Romero Jucá e a Marcelo Odebrecht. Essas contribuições eleitorais eram medidas,
definidas e decididas de acordo com a relevância dos assuntos de nosso
interesse que tinham sido defendidos pelo parlamentar”, afirma Melo.
“Ao longo dos anos que
mantive interlocução com o senador Romero Jucá, participei de pagamentos a ele
que hoje superam R$ 22 milhões. Como tive conhecimento, esses valores eram
centralizados no senador Romero Jucá e posteriormente redistribuído dentro de
seu grupo no PMDB”, afirma outro trecho.
Era Jucá quem intermediava
a propina a Calheiros, segundo o delator. “A Odebrecht sempre ajudou Renan
Calheiros, de forma indireta, através de Romero Jucá”, diz Melo.
Ajuda
Em uma reunião para tratar
de assuntos de interesse da Odebrecht, de acordo com o executivo, o próprio
Renan lhe pediu ajuda para a candidatura do filho em Alagoas. “Em determinado
momento da conversa, ele me disse que seu filho seria candidato ao governo de
Alagoas e me pediu expressamente, que eu verificasse se a empresa poderia
contribuir. Acredito que o pedido de pagamento de campanha a seu filho ao
governo do Estado de Alagoas, justamente no momento em que se apresentavam os
aspectos técnicos relevantes, era uma contrapartida para o forte apoio dado à
renovação dos contratos de energia, inclusive publicamente, e que culminou na
edição da MP n. 677/15”, concluiu.
Na Câmara, a empreiteira
contava com um grupo do PMDB formado por Temer (então deputado), Eliseu Padilha
e Moreira Franco. “Para fazer chegar a Michel Temer os meus pleitos, eu me
valia de Eliseu Padilha ou Moreira Franco, que o representavam. Essa era uma
via de mão dupla, pois o atual Presidente da República também utilizava seus
prepostos para atingir interesses pessoais, como no caso dos pagamentos que
participei, operacionalizado via Eliseu Padilha”, resumiu o delator.
Temer
Ele contou que, quando
Temer já era vice-presidente, pediu a Marcelo Odebrecht R$ 10 milhões. O
dinheiro foi entregue a Eliseu Padilha e Paulo Sckaf, presidente da Fiesp.
Michel Temer solicitou, direta e pessoalmente para Marcelo, apoio financeiro
para as campanhas do PMDB no ano de 2014”, relatou ao revelar um jantar com o
hoje presidente no Palácio do Jaburu.
Cláudio Melo cita 36
personalidades do mundo político. A delação dele terá que ser confirmada com
documentos, que forneceu aos investigadores da “Lava Jato”. Segundo o delator,
os repasses eram feitos a campanhas eleitorais por meio de caixa 2 ou doação
oficial. Mas, mesmo os repasses oficiais tinham interesses da Odebrecht no
atendimento a alguma demanda da empreiteira. Os depoimentos dos delatores serão
analisados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que decidirá
quais os políticos serão alvo de pedido de abertura de inquérito.
(Hoje em Dia)