É impossível olhar para o
cenário atual e não sentir um misto de indignação e dor diante da crescente
multidão de cristãos que se afastam das igrejas, engrossando as fileiras dos
chamados “desigrejados”. Não se trata, em sua maioria, de pessoas que abandonaram
a fé em Cristo, mas de irmãos e irmãs feridos por líderes que transformaram o
púlpito, que deveria ser lugar de vida e esperança, em instrumento de orgulho,
vaidade e até mesmo violência espiritual.
O que vemos é o cumprimento
das palavras de Jesus: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Pois atam
fardos pesados e difíceis de suportar e os põem aos ombros dos homens; eles,
porém, nem com o dedo querem movê-los” (Mateus 23:4). Muitos líderes
exigem dos fiéis um peso que eles mesmos não suportam, pregam aquilo que não
vivem, e ferem em nome de um evangelho que não se parece com o de Cristo.
Quantos têm sido esmagados
não pelo mundo, mas pela própria comunidade que deveria acolhê-los? Quantos
foram julgados, expostos e humilhados por aqueles que deveriam estender a mão?
Paulo advertiu: “Porque o reino de Deus não consiste em palavras, mas em poder”
(1 Coríntios 4:20). Contudo, o que se vê é uma avalanche de discursos
inflamados, mas sem vida, sem unção, sem exemplo.
Mais grave ainda é quando a
Palavra de Deus é manipulada para servir a interesses pessoais. Textos são
arrancados do contexto e transformados em armas, não em pão que alimenta. Pedro
já havia advertido sobre isso: “Assim como houve entre o povo falsos profetas,
também haverá entre vós falsos mestres, que introduzirão encobertamente
heresias destruidoras” (2 Pedro 2:1). Não é à toa que muitos, confusos e
feridos, escolhem se afastar do convívio congregacional, não de Cristo, mas das
estruturas que se corromperam.
Diante disso, não podemos ter
espírito de covardia. A igreja foi chamada para ser lugar de cura, não de
opressão. Foi chamada para ser família, não tribunal. O amor, que é o maior
mandamento, tem sido substituído por soberba, crítica e exclusão. Mas o
apóstolo João nos lembra: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”
(1 João 4:8). Se a liderança não expressa esse amor, está desconectada
da essência do Evangelho.
O que me aperta o coração é
perceber que, para muitos, isso já virou regra, quase uma cultura: pastores que
julgam, líderes que apontam dedos, ministérios que se sustentam mais na
cobrança do que no exemplo. Mas o exemplo de Cristo foi o contrário: Ele lavou
os pés dos discípulos (João 13:14-15), Ele acolheu a mulher adúltera (João
8:11), Ele perdoou quem o traía e o negava. Onde está esse modelo hoje?
A pergunta que fica é: quem
vai se levantar para viver o Evangelho em sua pureza? Quem vai abrir mão da
vaidade e do poder para pastorear como o Bom Pastor, que deu a vida pelas
ovelhas (João 10:11)? Porque o que vemos é gente matando espiritualmente
aqueles que deveriam ser cuidados.
A igreja de Cristo não
morrerá, disso temos certeza, mas é urgente denunciar os falsos caminhos que
têm levado muitos ao cansaço e à dispersão. O chamado não é para abandonar a
fé, mas para clamar por uma reforma de coração, para que voltemos ao simples e
poderoso Evangelho da cruz: amor, entrega, serviço e verdade.
“Mas vós não fareis assim;
pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e quem governa seja como
quem serve” (Lucas 22:26). Até que a igreja volte a entender isso,
continuará havendo multidões de crentes feridos do lado de fora dos templos.
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