Por Lilian Tintori: Povo da Venezuela precisa de ajuda do Brasil


Vladimir Chaves

Faz pouco mais de um ano, meu marido, Leopoldo López, líder do partido político Vontade Popular, com outros líderes da oposição e estudantes, organizou um protesto massivo para responder à rápida deterioração econômica e à insegurança em nosso país. A convocatória, não violenta, constitucional e democrática, foi para pedir a mudança de um governo corrupto, ineficiente e repressivo, que viola sistematicamente os direitos de seu povo.

Esse movimento, chamado “A saída”, oferece alternativas institucionais estabelecidas pela Constituição da Venezuela: realizar um referendo, uma Assembleia Constituinte, emenda constitucional, reforma constitucional ou a renúncia do presidente. O governo respondeu com mão de ferro aos protestos. O saldo foi de 44 mortos, 3.718 detenções arbitrárias, e 44 presos políticos. Entre eles, meu marido.

Leopoldo está no cárcere acusado de incitação pública, danos contra a propriedade e conspiração para delinquir. A Anistia Internacional classificou essas acusações de “tentativa de motivação política para silenciar a dissidência”. O Alto Comissariado para os Direitos Humanos, o Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária, o Comitê contra Torturas, todos das Nações Unidas, assim como o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o Human Rights Watch, e vários parlamentos — recentemente Chile, Espanha e Colômbia — e governos pediram sua libertação. Apesar disso, o governo da Venezuela permanece obstinado em mantê-lo preso por pelo menos uma década.

Maduro desmantelou sistematicamente nossas liberdades fundamentais, a liberdade de expressão, de associação, de imprensa e de opinião, e a mais fundamental: o direito à vida, porque a cada 20 minutos morre um venezuelano por causa da violência. Meu marido crê que o povo venezuelano merece um futuro melhor, de paz, prosperidade e bem-estar.

O principal argumento do governo é que a conclamação de Leopoldo tinha mensagens “subliminares” para provocar violência. Este argumento caiu quando a principal testemunha de acusação, uma especialista filiada ao Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e com doutorado em Linguística admitiu que “as mensagens de López não são subliminares; são claras, diretas e específicas. Pedem a não violência. Nunca houve um chamamento à violência por parte de López”. Sem esta evidência não há caso.

O governo da Venezuela deve saber que não pode pisotear nos direitos de seu povo com impunidade. Faço um chamado aos líderes do Brasil e, especialmente à presidente Dilma Rousseff, para que utilizem sua liderança dentro e fora de suas fronteiras a fim de que, mediante seus compromissos regionais com OEA, Unasul, Celac, se envolvam e ajudem a construir uma solução que respeite os princípios universais de respeito aos direitos humanos e democracia, e que incluam: 1) um chamado à libertação de presos políticos; 2) o fim da repressão e perseguição a quem pensa de forma distinta; e 3) a garantia, por meio de organismos especializados, da imparcialidade das eleições que se avizinham na Venezuela, para que sejam livres e justas.

Minha voz não basta. Os líderes da região, e principalmente a maior democracia da América Latina, a cargo da presidente Dilma Rousseff, têm a responsabilidade de materializar as aspirações dos habitantes de sua região. Ninguém melhor do que ela conhece as violações dos direitos humanos, a tortura, a prisão ilegal e a arbitrariedade. O Brasil não deveria ter medo de defender o que é correto.

Hoje na Venezuela, vivemos em crise, não temos segurança, mas temos esperança de que a região esteja acordando com relação aos horrores que ocorrem em nosso país, e esteja pronta para apoiar, com solidariedade, o povo da Venezuela, tendo o respeito aos direitos humanos como pilar.

Lilian Tintori é esposa do líder da oposição venezuelana, Leopoldo López



Publicado originalmente no O Globo.

1 comentários:

Essa mulher tem mais colhões do que muito "macho" por aí...

Postar um comentário