A cinco meses do prazo para eliminação de lixões, só três estados se aproximam da meta


Vladimir Chaves

Das cerca de 65 milhões de toneladas de resíduos sólidos produzidas por ano nas cidades brasileiras, apenas 4% são recicladas. E a cinco meses do fim do prazo para eliminação dos lixões, estipulado na lei que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, somente três estados e menos de 10% dos municípios concluíram seus planos de gestão, primeiro passo para o cumprimento da meta.

Os problemas foram apontados por participantes de uma audiência pública promovida pela Subcomissão Temporária de Resíduos Sólidos. Os debatedores reconheceram ganhos desde a publicação da Lei 12.305/2010, como o aumento das iniciativas de coleta seletiva e a profissionalização das cooperativas de catadores, mas também relataram deficiências que dificultam o cumprimento das metas.

"Achar que acabaríamos com os lixões em quatro anos é pressupor que os municípios detêm a estrutura para adotar as soluções, mas isso não é a verdade" disse Albino Alvarez, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Ele observou que a grande maioria dos municípios não tem como assumir os custos para, por exemplo, substituir lixões por aterros sanitários. Sem possibilidade de escala capaz de reduzir custos, os pequenos municípios comprometeriam em torno de 15% de seus orçamentos para cumprir a meta.

Para o pesquisador, é preciso construir soluções diferenciadas para essas cidades, respeitando as particularidades municipais. E nesse sentido, Ney Maranhão, secretário de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), defendeu um tratamento específico para 25% dos municípios brasileiros que geram 80% do lixo.

"Concentrar nesses 25% significa resolver 80% do tamanho do nosso problema. Precisamos tratar os desiguais como desiguais, e não querer passar uma régua e considerá-los homogêneos, todos iguais. Temos que trabalhar com ferramentas adaptativas, para nos adequar às realidades locais" disse Maranhão.

Ao concordar, o senador Cícero Lucena (PSDB-PB), presidente da subcomissão, disse que os grandes municípios que respondem pela maioria do lixo produzido no país reúnem condições financeiras e técnicas para eliminar os lixões e adotar sistemas adequados de gestão de resíduos sólidos.

"Os demais vão precisar de assessoramento técnico e apoio financeiro para se adequar à lei" disse o senador. Conforme explicou, as dificuldades dos pequenos municípios serão discutidas em audiências públicas que a subcomissão promoverá ao longo do semestre, quando também serão identificadas saídas para que todos consigam dar um destino adequado ao lixo.

0 comentários:

Postar um comentário