Na Igreja primitiva, o
testemunho não era um detalhe secundário, mas parte essencial da vida cristã.
Desde os primeiros dias após o Pentecostes, cada convertido entendia que sua
nova vida em Cristo não poderia permanecer em silêncio. O encontro com Jesus
era tão transformador que se tornava impossível escondê-lo. A mulher samaritana
correu para sua cidade anunciando quem havia encontrado; o gadareno liberto
voltou para casa contando as maravilhas de Deus; Paulo, ainda recém-convertido,
não esperou amadurecer anos para testemunhar, mas imediatamente proclamava nas
sinagogas que Jesus era o Filho de Deus.
O testemunho não era apenas
uma narrativa pessoal, mas uma proclamação viva do poder de Cristo. Ele
funcionava como um selo visível da transformação interior operada pelo Espírito
Santo. Por isso, a Igreja crescia em graça diante de Deus e em impacto diante
dos homens: não apenas os apóstolos pregavam, mas todos os irmãos, em sua
rotina e em suas palavras, transmitiam a novidade de vida que haviam
experimentado.
Hoje, percebe-se que muitas
igrejas têm dado pouca ou nenhuma importância ao testemunho. O espaço para
compartilhar experiências pessoais com Deus vai desaparecendo, sendo
substituído por agendas repletas de programas e eventos que pouco edificam a fé.
A voz simples do irmão alcançado pela graça acaba abafada pela performance do
culto. O resultado é que a comunidade de fé perde o senso de identificação com
a obra real e cotidiana de Deus na vida das pessoas.
É preocupante notar que,
quando os testemunhos se calam, a igreja corre o risco de parecer uma
instituição que fala sobre um Deus distante, mas não demonstra sua ação
presente. O testemunho é justamente o elo que conecta a fé proclamada à fé
vivida; é o sinal visível de que a Palavra continua sendo eficaz.
Se a Igreja primitiva
conquistava corações não apenas pelas pregações de Pedro e Paulo, mas também
pelo testemunho dos novos convertidos que contavam como Cristo havia mudado
suas vidas, que mensagem transmitimos hoje quando não valorizamos os testemunhos?
O testemunho não pode ser
tratado como um detalhe, mas como um instrumento vital de edificação interna e
evangelização externa. Se voltarmos a dar espaço para ouvir como Deus ainda
transforma vidas, a igreja recuperará algo precioso: a lembrança de que o
Evangelho não é teoria, mas poder de Deus em ação.
Textos bíblicos sobre o
testemunho
Marcos 5:19-20 – O
gadareno liberto:
“Jesus, porém, não lho
permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão
grandes coisas o Senhor te fez, e como teve misericórdia de ti. Então ele foi e
começou a anunciar em Decápolis quão grandes coisas Jesus lhe fizera; e todos
se maravilhavam.”
Jesus não apenas permitiu,
mas mandou testemunhar imediatamente após a libertação.
Lucas 8:39 – O
mesmo relato sob outra perspectiva:
“Volta para tua casa, e
conta quão grandes coisas te fez Deus. E ele foi, apregoando por toda a cidade
quão grandes coisas Jesus lhe fizera.”
João 4:28-30, 39 – A
mulher samaritana:
“Deixou, pois, a mulher o
seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: Vinde, vede um homem que
me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo? (...) E
muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que
testificou...”
Aqui, Jesus não ordena
diretamente, mas a experiência pessoal a leva naturalmente a testemunhar,
resultando na conversão de muitos.
Mateus 10:32 – O
ensino de Jesus:
“Portanto, todo aquele que
me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que
está nos céus.”
Testemunhar publicamente faz
parte da vida cristã.
Atos 16:33-34 – O
carcereiro de Filipos:
“E, tomando-os ele consigo,
naquela mesma hora da noite, lavou-lhes os vergões; e logo foi batizado, ele e
todos os seus. Então, levando-os a sua casa, lhes pôs a mesa; e, na sua crença
em Deus, alegrou-se com toda a sua casa.”
O carcereiro, antes
responsável por manter Paulo e Silas presos, reconhece Jesus como Salvador e
sua fé alcança toda a família.
Atos 1:8 –
Última instrução de Jesus antes da ascensão:
“Mas recebereis a virtude do
Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em
Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria, e até aos confins da terra.”
Não apenas os apóstolos, mas
todos os que cressem seriam chamados a ser testemunhas vivas de Cristo.
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