Deus não faz acepção de pessoas


Vladimir Chaves

“Deus não faz acepção de pessoas.” Essa verdade, proclamada por Pedro em Atos 10:34, é um fio condutor que atravessa toda a Escritura e se cumpre de maneira esplêndida na pessoa de Jesus Cristo. Ao longo da história, vemos que os homens estabelecem barreiras, preconceitos e divisões, mas o agir de Deus rompe essas fronteiras e revela que sua graça alcança os lugares mais improváveis.

Um dos maiores exemplos está na relação entre judeus e samaritanos. Desde a queda do Reino do Norte e a mistura do povo com estrangeiros trazidos pela Assíria (2 Reis 17), os samaritanos passaram a ser vistos como impuros, indignos e hereges. Os judeus cultivavam um desprezo histórico por eles, a ponto de evitar contato ou até mesmo atravessar suas cidades. Porém, justamente nesse cenário de rejeição, Cristo se revela de forma surpreendente. Ele não apenas fala com uma mulher samaritana, quebrando paradigmas sociais e culturais, mas também escolhe esse encontro para abrir uma das maiores revelações do Novo Testamento: a verdadeira adoração não se limita a um templo ou a uma tradição, mas acontece em espírito e em verdade. O que era desprezado pelos homens tornou-se palco da manifestação da graça.

O evangelho de João mostra de forma ainda mais clara essa inversão de expectativas. Nicodemos, mestre da Lei, homem respeitado, religioso exemplar, procura Jesus em segredo, mas não consegue compreender o novo nascimento. A samaritana, em contraste, uma mulher sem reputação, marcada por fracassos e rejeição, encontra Jesus em plena luz do dia e se torna testemunha para toda a sua cidade. O que parecia promissor em termos humanos se perde na resistência; o que parecia indigno floresce em fé e testemunho.

Essa lógica divina se repete em outras passagens. Simão, o Mago, também samaritano, creu e foi batizado, ainda que sua fé fosse imperfeita e marcada por equívocos. Sua história mostra tanto os riscos de uma fé distorcida quanto o poder do Evangelho que alcança até os mais improváveis. Deus, em Sua soberania, chama, corrige e molda corações onde menos se espera.

O que aprendemos é que a fé verdadeira não está necessariamente nos lugares de prestígio religioso ou entre aqueles que carregam títulos de honra. Muitas vezes, ela surge no coração quebrantado, no pecador arrependido, no rejeitado pelos homens. A graça de Deus não se prende às aparências, mas sonda a essência. Ele rejeita a religiosidade vazia, mas acolhe a alma sedenta que clama por vida.

Cristo nos mostra que o Reino de Deus não se fecha em fronteiras humanas. Ele atravessa Samaria, dialoga com quem é desprezado e exalta aqueles que o mundo ignora. A fé verdadeira é assim: floresce onde ninguém espera, rompe preconceitos e nos lembra que o amor de Deus não conhece limites.

 

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