Escola ao lado do estádio que custou R$ 518 milhões recebe R$ 0,24 por merenda.


Vladimir Chaves

A bola não rola do outro lado da Avenida do Castelão, palco do segundo jogo do Brasil na Copa, nesta terça-feira (17), diante do México. A gorduchinha quica entre pedras e estilhaços de tijolos, em trecho desnivelado do terreno improvisado como quadra da Escola Estadual Deputado Paulino Rocha.

“O racha aqui rachar o pé” Sintetiza Herlon Chagas, estudante de 17 anos, ao citar o termo correspondente à pelada, disputada com os colegas entre as aulas em uma superfície com materiais cortantes.

A inexistência de espaço próprio para as aulas de educação física é só um dos problemas enfrentados pelos 812 alunos da instituição de ensino, cujo portão de entrada fica de frente para o estádio reformado para o Mundial com R$ 518 milhões do Governo do Ceará.

“O ar condicionado pega fogo nas salas, porque o sistema elétrico é muito antigo. A iluminação da sala é tão ruim que dá vontade de dormir. As luzes queimam enquanto escrevemos”, queixa-se o estudante Francisca Carneiro.

Insatisfeitos com a estrutura sucateada do local de estudo, sem refeitório e com salas de aula degradadas, os alunos se mobilizaram e pintaram os muros do colégio no último dia 7 com protestos contra o governador Cid Gomes (Pros), no cargo desde 2006 e reeleito em 2010.

A Secretaria de Educação do Ceará (Seduc) agiu rápido e, para evitar exposição das mazelas para os turistas e para a imprensa na Copa, apagou com tinta branca as mensagens de reivindicação, na última sexta, véspera de Uruguai 1x3 Costa Rica.

“Já estou tentando mobilizar meus amigos para pintarmos o muro de novo até o jogo do Brasil”, responde Herlon, que não se interessou pelos jogos do Mundial porque não tem condições de comprar o ingresso e não quer “dar dinheiro para a Fifa”.

A grana também é curta para a diretora Juraciara Soares, que não quis se pronunciar, providenciar merenda para os estudantes. Com 812 cadastrados, a verba para o lanche é repassada pelo Governo Federal – R$ 40 mil anuais, o que, em 200 dias letivos, representa R$ 0,24 por aluno.


“A gente recebe quatro bolachas e um suco aguado, que vem mais água do suco” disse Herlon.



Fonte: Site Lancenet

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