Em depoimento prestado ao
juiz federal Sérgio Moro, Duque contou que se reuniu três vezes com Lula após
deixar a Diretoria de Serviços da empresa, em 2012, e que durante as conversas
o ex-presidente o questionou sobre o andamento dos contratos da Petrobras com
estaleiros para a construção de navios-sonda. A preocupação de Lula, segundo
ele, era com os pagamentos feitos ao PT e com o possível rastro financeiro em
contas fora do país que poderia ser detectado pelas investigações.
Réu em um dos processos da
Lava Jato em Curitiba, Renato Duque foi reinterrogado hoje após permanecer em
silêncio na audiência do dia 17 de abril. Ele próprio pediu para ser ouvido
novamente. Além de Duque, os ex-ministros Antonio Palocci, o ex-presidente da
Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e o marqueteiro João Santana são réus na mesma
ação penal.
“No último encontro, em
2014, já com a Lava Jato em andamento, ele [Lula] me chama em São Paulo, no
hangar da TAM do Aeroporto de Congonhas, e me pergunta se eu tinha uma conta na
Suíça com recebimentos da SBM [empresa holandesa acusada de pagar propina a
funcionários da Petrobras] dizendo que a então presidente Dilma [Rousseff]
tinha recebido informação de que um ex-diretor da Petrobras teria recebido dinheiro
em uma conta na Suíça. Eu falei: 'Não tenho, nunca recebi dinheiro da SBM'. Aí
ele vira pra mim e fala: 'E das sondas, tem alguma coisa?' E eu tinha, né? Mas
eu falei: 'Não, também não tem'. Ele falou: 'Olha, presta atenção no que eu vou
te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no
teu nome, entendeu?' Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Não tinha mais o que
fazer”, disse.
As informações referentes
aos encontros com Lula foram detalhadas em resposta à própria defesa de Duque,
depois que Sérgio Moro fez seus questionamentos. Segundo o ex-diretor, a
primeira das três reuniões ocorreu a pedido dele próprio, para “agradecer pelo
período” que passou na Petrobras. No depoimento, Renato Duque conta que, embora
funcionário de carreira, chegou à Diretoria de Serviços da estatal, em janeiro
de 2003, após negociações que envolveram o então ministro da Casa Civil, José
Dirceu, que também foi condenado em processos da Lava Jato.
Institucionalizado
Segundo o ex-diretor, o
esquema de corrupção era “institucionalizado” e vinha de gestões anteriores.
Devido a isso, explicou, os partidos faziam solicitações às empresas que
fechavam contratos com a Petrobras e elas repassavam os valores já como uma
“consequência”. “Isso não era uma obrigação”, disse.
Em diferentes trechos do
depoimento, ele diz que deseja esclarecer o que estiver a seu alcance e que
quer pagar pelo que fez. Renato Duque, que está em preso há mais de dois anos
após mandados expedidos por Sérgio Moro, relatou também ter três contas no
exterior cujo dinheiro, segundo ele, poderia ser repatriado pelos
investigadores para retornar a “quem de direito”. De acordo com ele, pelo menos
20 milhões de euros (cerca de R$ 69,84 milhões) ainda estão em sua posse no
exterior.
Na Petrobras, Duque era o
responsável por repassar as vantagens indevidas ao PT. A partir de 2007, as
negociações passaram a ser feitas com João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do
partido, segundo o ex-diretor, cumprindo determinação do próprio Lula. “Fui
chamado a Brasília pelo então ministro Paulo Bernardo, essa pessoa falou: 'Você
vai conhecer uma pessoa indicada pelo... e fazia um movimento [com as mãos, na
barba e no queixo]. O Lula era chamado como Chefe, Grande Chefe, Nine ou esse
movimento com a mão. A pessoa que está sendo indicada, ela que vai ser agora
quem vai atuar junto a empresas que trabalham com a Petrobras. Foi quando conheci
o Vaccari em 2007”, disse.
Durante o depoimento, que
durou mais de uma hora, o ex-diretor de Serviços da Estatal detalha que, no
caso específico dos contratos envolvendo a Sete Brasil, foi acordado o repasse
de 0,9% de propina dos valores pagos pelos cinco estaleiros contratados para
construir os navios-sonda. A vantagem ilegal seria dividida igualmente entre o
PT e os funcionários da Petrobras. A Sete Brasil foi criada pela estatal para
explorar o petróleo na camada pré-sal.
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