A greve me dá tempo pra analisar, pensar, e concluir: a mentalidade universitária brasileira me decepciona.


Vladimir Chaves

Claro que a analise só vai até onde eu posso observar. Mas quis usar o "brasileira" para não ter que dar nome aos bois de forma tão direta.

Os jovens vestibulandos são ensinados como obter um bom resultado no ENEM, ou no vestibular, apenas. Disso nós já sabemos. E, acredito, que já reconhecemos o "método" como uma grande falha no sistema educacional e cultural.

O vestibulando vive em uma temporada de preparação para um grande campeonato, em busca de um troféu no qual, muitas vezes, só é desejado como forma de satisfação e alívio para familiares e amigos. Após a aprovação, acaba-se a fome por vitória de muitos. Pois o topo da montanha era a aprovação em um curso superior. E, muitas vezes, um curso supervalorizado por questões -apenas- culturais.

A cultura faz acreditar que precisamos ter uma graduação, um nível superior, para que possamos "vencer na vida", "ser alguém na vida", "ter respeito social". Patentes, somos ensinados a conquistar títulos, ter um bom nome, ter um bom lattes.

Temos o nível técnico como patente menor, em relação a graduação. Deve ser por causa do tempo necessário para formação, não é?! Bem, particularmente, não sei. Mesmo eu usando dessa mentalidade, largando um técnico, para dar início a uma graduação. Naquele tempo eu acreditava que era realmente melhor, era um vestibulando senso comum.

Não me decepcionei com a universidade. Sempre fui conectado e observando as pessoas ao redor e suas atitudes, e foi ai que comecei a ver a mentalidade. Continuava procurando, por meio da internet, perspectivas de profissionais ou estudantes de outras regiões e países. E comecei a perceber que existia algo, e que, esse algo, faltava no meio acadêmico.

Faltava uma intenção de ser agente transformador direto. Os alunos chegam em sala, sentam e assistem minutos e minutos de conteúdo que muitas vezes é apenas repetido por professores de turma em turma. Aquele slide que é reutilizado durante anos. Alunos que, em aulas práticas, ligam seus celulares e gravam as técnicas, para que possam repeti-las depois, não como treino para um aperfeiçoamento de técnica, mas uma repetição para decorar movimento. O movimento se torna metódico, engessado, totalmente limitado. Não há um raciocínio teórico, levando a um pensamento crítico, clínico e sistemático. Poucos sabem responder os porquês, trazer contraponto, e descrever a relação sistemática do trabalho realizado.

Faltava a percepção social de ser agente transformador direto. Alunos que não percebem, ao menos, a relevância social de cada formação. Uma sociedade onde existe hierarquia de profissões, onde o médico é melhor que o profissional de estatística. Como se o médico pudesse realizar o trabalho do profissional de estatística com louvor, baseado nos seus conhecimentos da graduação em medicina. Falta alunos dispostos a intervir politicamente. Quando, em uma assembleia estudantil, 90% dos alunos são apenas de uma vertente ideológica, e nem são maioria nas salas de aula.

Faltava consciência científica de ser agente transformador direto. Como já dito por um certo alguém, a ciência tem sido banalizada. São pesquisas abandonadas após uma publicação em um congresso, porque o importante era só o certificado. Uma banalização de publicação, uma troca de serviços corruptíveis, onde cada um coloca o nome de outro no trabalho, que nem fez parte. A corrupção chegou na ciência. Bem, veremos a curto prazo suas consequências.

Faltava o respeito e valor à universidade que os formou. Alguns têm vergonha de dizer onde estudam, de carregar o brasão da universidade em seus "fardamentos". Muitos querem se livrar da universidade, e não querem nem olhar para trás, após estarem com o diploma pendurado na parede. Falta gratidão.

São quase quatro anos de vida universitária, e fico decepcionado quando olho para ao redor e o ambiente me faz sentir ainda um aluno de ensino fundamental.

Mas você poderia me indicar a fazer minha parte e não olhar ao redor. Mas isso me faria mais um que apenas olha pra frente, como aqueles burros de carga, e me faria egoísta em não pensar em como melhorar as pessoas e o lugar por onde tenho passado.

Entretanto, manterei a esperança em um dia ver uma universidade com acadêmicos que seguem um caminho que julgam realmente ser o melhor, de forma independente, respeitosa, honesta, e gratificante. Assim, transformando a sociedade em um lugar melhor, como tem que ser feito.

Por Patrick Kervin (estudante de fisioterapia-UEPB)

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