Numa demonstração de que a
corrupção não respeita divergências partidárias, ex-executivos da Odebrecht
relataram pagamento de propina ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e ao
adversário dele o ex-governador Teotônio Vilela (PSDB ) em troca de benefícios
relacionados às obras de construção do Canal do Sertão Alagoano. O
ex-presidente do Senado e o filho, Renan Filho (PMDB ), atual governador, são
acusados de receber R$ 1.329.2112,00 da Odebrecht. Para Teotônio, os delatores
disseram ter pago R$ 2.814.000,00, só no período em que ele era governador e um
dos responsáveis diretos pelo Canal.
Os ex-executivos também
delataram pagamentos para o ex-ministro da Integração, o senador Fernando
Bezerra (PSB-PE) que, na área federal, era o a autoridade encarregada de
reservar recursos para as obras. Bezerra teria recebido R$ 1.050.000,00 a
título de doação para a campanha eleitoral de 2014. O Canal do Sertão tem por
objetivo levar água para mais de um milhão de pessoas numa das regiões mais
secas e pobres da América Latina. A escassez de água é uma das principais
causas do subdesenvolvimento econômico da região. Pelo projeto original, o
canal teria 250 quilômetros de extensão ao custo de R$ 1,5 bilhão. O governo
gastou R$ 2 bilhões e, até agora, só 107 quilômetros foram concluídos.
As fraudes nas obras
destinadas a mitigar os efeitos da seca em Alagoas foram denunciadas pelos
ex-executivos João Antônio Pacífico, ex-diretor da Odebrecht no Nordeste, Airel
Parente e Alexandre Biselli, entre outros ex-dirigentes da empreiteira. Segundo
eles, num primeiro momento, houve um acerto com ex-auxiliares de Teotônio
Vilela para direcionar os lotes 3 e 4 do Canal para a Odebrecht e a OAS. Pelo
acordo, as empreiteiras teriam que pagar uma propina equivalente a 2,25% do
valor da obra. O pagamento da propina ocorreria de acordo com o cronograma de
desembolso do governo para o custeio das obras.
A partir destes acertos,
os delatores relataram o pagamento de propina para Teotônio e para dois
ex-secretários dele, Marco Antônio Fireman e Fernando Nunes. Teotônio teria
embolsado R$ 2,8 milhões. Mas as fraudes não pararam por aí. Ariel Parente
disse que, ainda em 2010, Renan Calheiros foi agraciado com R$ 500 mil. "O
montante dos R$ 500.000,00 foi pago por meio do complexo Setor de Operações
Estruturadas da empresa Odebrecht, contabilidade paralela, efetuando-se o pagamento
de dinheiro em espécie ao agente político ou seus emissários", diz um dos
delatores.
O acerto do pagamento
teria ocorrido numa reunião entre Renan e Pacífico no hotel Radisson, em
Maceió. Mas nem assim o ex-presidente ficou satisfeito. Renan teria pedido mais.
As queixas foram levadas aos escalões superiores da Odebrecht em Brasília. Num
outro momento, Renan pediu dinheiro a pretexto da campanha do filho ao governo
de Alagoas. Em resposta, Odebrecht repassou R$ 829.212,00 para a Renan Filho
por intermédio de uma doação oficial ao PMDB nacional. Como parte do acerto
também, duas outras empreiteiras vinculadas às obras, a OAS e a Queiroz Galvão,
também pagaram R$ 3,6 milhões para Renan Filho.
Os delatores disseram
ainda que os repasses para Fernando Bezerra, então ministro da Integração,
foram acertados entre ele e Pacífico. Num dos encontros, o ex-ministro sugeriu
a Pacífico que os pagamentos fossem viabilizados por intermédio de um de seus
auxiliares, Iran Padilha. Os pagamentos teriam sido autorizados por Benedicto
Júnior, que naquele período era responsável pelos pagamentos mais elevados ou
considerados de maior interesse da Odebrecht. O dinheiro para o ex-ministro
teria saído também do departamento de propinas.
Renan Calheiros é acusado
também de cobrar R$ 1,2 milhão da Odebrecht para garantir a aprovação da medida
provisória 579, conforme os interesses da empreiteira. Pelo acerto, a medida
provisória deveria prorrogar o prazo de concessão das empresas de energia
elétrica na região. A medida era uma reivindicação da Braskem, uma das empresas
vinculadas ao grupo Odebrecht. "Com a aprovação desta, os contratos de
concessão de energia foram prorrogados até 2015 e impactaram de forma muito
relevante nos cofres da Braskem, que, sem esta prorrogação, teria suas atividades
no estado de Alagoas inviabilizadas em razão do custo energia", diz um dos
delatores.
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