Cientistas lançam desafio à FIFA para salvar o tatu-bola da extinção


Vladimir Chaves

Em artigo, pesquisadores sugerem que 1 mil hectares sejam declarados com área protegida na caatinga para cada gol marcado na Copa do Brasil.

Neste momento, imagino que está sendo (ou já foram) produzidos, em alguma fábrica da China, alguns milhões de bonecos do Fuleco, o simpático tatu-bola que foi escolhido como mascote da Copa do Mundo 2014 no Brasil. Infelizmente, o número de tatu-bolas de verdade que caminham hoje pelas florestas secas da caatinga brasileira é bem menor do que isso. A espécie, conhecida cientificamente como Tolypeutes tricinctus, está ameaçada de extinção (consta como “vulnerável” no Livro Vermelho do ICMBio), assim como o ambiente natural do qual ela depende para sobreviver.

Pensando nisso, um grupo de pesquisadores do Nordeste resolveu fazer um desafio à Fifa e ao governo brasileiro, bem mais modesto do que a construção de estádios e outras obras do tipo: destinar 1 mil hectares de caatinga como área protegida para cada gol que for marcado na Copa do Mundo no Brasil. Considerando que cerca de 150 gols são marcados em média por torneio, isso implicaria na criação de 1.500 km2 de áreas protegidas no bioma. E se você está achando muito, saiba que isso representaria míseros 0,002 % da área total de ocorrência da espécie.

Não é pedir demais, né? Pra quem está gastando (no caso do Brasil) ou ganhando (no caso da Fifa) bilhões de dólares com o futebol e a venda de souvenirs, não custa muito dar esse cachê para o coitado do tatu-bola.

A proposta dos pesquisadores está descrita em um artigo publicado na revista científica Biotropica. O autor principal é o biólogo Enrico Bernard, da Universidade Federal de Pernambuco, Laboratório de Ciência Aplicada à Conservação da Biodiversidade.


Herton Escobar / O Estado de S. Paulo

0 comentários:

Postar um comentário