Ministros que planejam concorrer a governador intensificam caronas em jatos da FAB para visitar redutos


Vladimir Chaves

Quatro ministros de Dilma Rousseff cotados para concorrer a governador em outubro aproveitaram o último trimestre de 2013 para intensificar as idas em voos oficiais aos Estados que pretendem comandar.

O movimento coincide com a proximidade da saída obrigatória dos ministros candidatos de suas pastas, prevista para ocorrer até abril. A alta consta em levantamento feito pelo Grupo RBS, com base nos registros da Força Aérea Brasileira (FAB). A informação passou a ser divulgada em julho, após polêmica envolvendo caronas em jatos.


A FAB transportou autoridades em mais de 1,4 mil voos nos últimos seis meses. Entre os ministros que devem concorrer a governador, quem mais solicitou carona oficial foi Alexandre Padilha (Saúde), provável candidato petista ao governo de São Paulo. Ele quase quintuplicou as idas ao seu Estado entre outubro e dezembro. No semestre, Padilha foi 29 vezes de FAB para São Paulo, sendo 24 no trimestre derradeiro do ano.

Pré-candidato do PT ao governo de Minas, Fernando Pimentel (Desenvolvimento) adotou postura similar. Em cerca de um terço das viagens nos últimos três meses, pousou em território mineiro — 14 dos 47 voos. No trimestre anterior, ele usou o serviço apenas quatro vezes para ir ao seu Estado.
Titular das Cidades, Aguinaldo Ribeiro (PP) pode concorrer ao Senado ou ao governo da Paraíba. No último trimestre, ele dobrou as viagens de FAB ao seu Estado (quatro para oito), mesma alta da ministra da Casa Civil, a petista Gleisi Hoffmann (cinco para 10), nas idas ao Paraná.

A reportagem procurou os quatro ministros para comentar as viagens. Padilha e Pimentel não responderam. A assessoria de Gleisi explicou que ela mantém residência em Curitiba, trajeto permito pela legislação. Quando viajou a trabalho ao Estado, continua a assessoria, a ministra participou de solenidades como representante do governo, atos previstos em suas agendas.

A assessoria de Aguinaldo Ribeiro deu a mesma explicação, porém, detalhou que o ministro participou de inaugurações, encontros com empresários e entregas de máquinas, casas e caminhões-pipa.


A farra

As polêmicas caronas da FAB são antigas. Relembre alguns episódios

— No governo Fernando Henrique, o então ministro Ronaldo Sardenberg usou aviões da FAB para viajar a Fernando de Noronha. Além disso, ele ficou hospedado no Hotel de Trânsito de Oficiais da ilha. Os fatos ocorreram entre 1996 e 1998.


— No Carnaval de 2013, o ministro Aldo Rebelo usou avião da FAB para ir a Cuba com familiares e assessores. Ele viajou em missão oficial e justificou a carona à mulher e ao filho dizendo que foram convidados pelo governo cubano.

— Em um sábado de junho passado, Renan Calheiros (PMDB-AL) usou um avião C-99 para ir de Maceió a Porto Seguro. Ele participou do casamento da filha do senador Eduardo Braga (PMDB-AM), em Trancoso. A volta ocorreu no domingo.

— Também em junho, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), usou um C-99 para levar a noiva e parentes a um jogo da Seleção no Maracanã. A aeronave buscou a turma em Natal na sexta-feira e voltou no domingo.

— Após a revelação das viagens de Renan e Henrique Alves, a FAB passou a divulgar quem são os políticos que pedem carona. Mas o custo de cada viagem e os motivos de cada deslocamento não são divulgados.


— Em dezembro, Renan apareceu novamente no noticiário por conta de carona da FAB. O senador viajou de Brasília ao Recife para submeter-se a uma cirurgia de implante de 10 mil fios de cabelo.

As regras

O uso de voos da FAB por autoridades é regulamentado pelo Decreto 4.244 de 2002

— Podem solicitar voo oficial o vice-presidente, presidentes do Senado, Câmara e STF, ministros e comandantes das Forças Armadas. O presidente tem aeronave própria.

— O ministro da Defesa e o comandante da Aeronáutica têm autoridade para liberar o transporte de outras autoridades nacionais e estrangeiras.

— Os voos oficiais podem ser usados para viagens de trabalho, retorno ao local de residência e emergência médica. A FAB não questiona as motivações das autoridades.


— Utilizar voo oficial para outras finalidades é considerado infração administrativa grave, com possíveis penalidades administrativas, civis e penais.


ZERO HORA 

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