A paternidade, desde os
primórdios da humanidade, sempre carregou uma profunda responsabilidade
espiritual, emocional e moral. A própria história bíblica nos alerta para os
perigos de uma paternidade exercida de forma negligente. Eli e Samuel (homens
de Deus, fiéis e irrepreensíveis em seu ministério) falharam justamente nesse
ponto: não cuidaram devidamente do próprio lar.
É impressionante perceber
que sacerdotes que ministravam diante de todo Israel e eram referência
espiritual para a nação não enxergaram a corrupção e o desvio no coração de
seus próprios filhos. Exercitavam autoridade diante do povo, mas não dentro de
casa. Eram vigilantes no tabernáculo, mas descuidados no convívio familiar.
Essa realidade não ficou no
passado. Hoje, repete-se continuamente. Muitos pais (inclusive cristãos,
líderes e trabalhadores dedicados) se esforçam para prover sustento, cumprir
compromissos e cuidar de responsabilidades externas, mas deixam um vazio
emocional e espiritual dentro de casa. A ausência de uma autoridade
equilibrada, presente e amorosa tem gerado filhos inseguros, desorientados, revoltados
e, muitas vezes, profundamente decepcionados com os próprios pais.
A Bíblia e a experiência
humana concordam: a presença do pai é insubstituível. Ela funciona como um
ponto de apoio interior, um referencial de estabilidade. Onde o pai está
presente, conversa, corrige com amor, ora com os filhos, demonstra afeto e
estabelece limites, a família respira segurança. Onde está ausente (física ou
emocionalmente) abre-se uma lacuna que afeta profundamente a formação moral e
espiritual dos filhos.
Estudos atuais apenas
confirmam o que a Escritura já ensinava: o pai influencia o equilíbrio
emocional, o senso de responsabilidade, a visão de futuro, a capacidade de
fazer escolhas, a definição de prioridades e até a compreensão do que é
bondade, gentileza e integridade. Não à toa, em 1 Timóteo 3.4, Paulo
afirma que o pai cristão precisa governar bem a própria casa, pois isso revela
maturidade e coerência de caráter.
Os exemplos de Hofni e
Finéias (filhos de Eli), bem como dos filhos de Samuel, são advertências vivas.
Apesar de cercados por um ambiente religioso, treinados em rituais e
familiarizados com a Lei, faltou-lhes aquilo que somente a presença paterna
diária pode produzir: relacionamento pessoal com Deus, caráter moldado,
proximidade afetiva, direção firme. Suas histórias mostram que prática
religiosa alguma substitui o papel essencial do pai no lar.
Talvez a maior lição desses
relatos seja esta: não basta ser um homem de Deus em público; é preciso ser um
homem de Deus dentro de casa. Ministérios podem florescer e reputações podem
crescer, mas, se o coração dos filhos for negligenciado, o preço será alto
demais.
Assim, a Escritura nos
convida a uma reflexão sincera:
– Como temos exercido nossa
paternidade?
– Somos presentes ou apenas
provedores?
– Conversamos ou apenas
corrigimos?
– Ensinamos sobre Deus
apenas com palavras ou também com o exemplo?
– Nossa autoridade se
expressa em amor ou está ausente justamente quando mais necessária?
A família é o primeiro
ministério, o primeiro altar, o primeiro campo de missão. Quando o pai assume
seu papel com responsabilidade, sensibilidade e temor do Senhor, forma filhos
fortes, espiritualmente saudáveis e preparados para a vida. Mas quando falha,
como falharam Eli e Samuel, o impacto ultrapassa o lar e pode ecoar por
gerações.
Que esse alerta bíblico
desperte em cada pai (presente ou futuro) a consciência de que a paternidade é
uma chamada divina, e a fidelidade a essa missão é um legado que molda
destinos.





