CPMI do 8 de Janeiro: Depoimento de coronel Naime aponta para omissões dos poderes.


Vladimir Chaves



A informação de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) avisou sobre ameaças de invasão das sedes dos três Poderes na manhã do dia 8 de janeiro foi classificada como importante para a linha de investigação da comissão parlamentar mista de inquérito (CPMI) que apura ações e omissões que levaram aos ataques.

Segundo afirmou o ex-chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do Distrito Federal, Coronel Jorge Eduardo Naime, à CPMI nesta segunda-feira (26), o alerta foi dado por volta das 10h do dia 8 em um grupo de WhatsApp que reunia representantes de vários órgãos de inteligência.

Durante a oitiva, Naime ressaltou que seu departamento não estava no grupo criado no dia 7 de janeiro e que essas informações não chegaram aos braços operacionais da segurança pública.

“Às 10h da manhã do dia 8 tem uma informação da Abin dizendo claramente as incitações à invasão de prédio público, dizendo claramente que seriam invadidos, e aí me causa estranheza. [...] Os senhores precisam ver aonde essa informação chegou. Se essa informação chegou ao nível de secretário e comandante-geral, e eles não tomaram as providências, porque, minimamente, o Gabinete de Gestão de Crise tinha que ter sido acionado nesse momento, ou se as inteligências não passaram essas informações para o secretário” disse o militar.

O Coronel afirmou ainda, que alertou sobre os riscos do acampamento montado em frente ao QG do Exército e que colocou 450 policiais militares à disposição para desmobilizá-lo, mas que a ação da PM sempre foi limitada pelas Forças Armadas. 

Para o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (União-BA), o colegiado tem avançado na montagem desse quebra-cabeças:

O depoimento do coronel Jorge Eduardo Naime voltou a expor as divergências entre governistas e oposição na  CPI Mista do 8 de Janeiro.

Preso desde fevereiro, o militar negou ter responsabilidade no episódio. Logo no início do depoimento, ele disse não saber por que está preso, reforçou que estava de folga no dia do ataque às sedes dos três Poderes e relatou que voltou à ativa no dia 8 após ser convocado.

O vice-presidente da CPMI, senador Magno Malta (PL-ES), criticou o fato de o coronel Naime estar preso há seis meses “sem saber a razão”. Magno Malta criticou a tentativa de alguns parlamentares de indicar o ex-presidente Bolsonaro como “autor intelectual” das manifestações de janeiro. O senador ainda sugeriu levar à CPMI o governador do DF, Ibaneis Rocha, para falar do que foi combinado sobre as férias do então secretário de segurança, Anderson Torres.

“Quem sabe qual o acordo que ele fez com o Ibaneis para sair de férias é o Ibaneis. Não é que ele [Anderson] entrou, trabalhou seis dias e saiu de férias. De longe, longe, essa ilação é muito fraca, ela é até deprimente, ela é frágil demais. Ninguém precisa ter argumento ou capacidade de entrar na mente dos outros para destruir uma narrativa tão fútil, tão pequena e tão desnecessária” disse.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE), no entanto, sustentou que o coronel é um “preso político”. O parlamentar afirmou que é importante a comissão ter acesso aos relatórios da Abin, conforme sugerido pelo depoente, e voltou a criticar uma suposta omissão do governo federal, cobrando direitos humanos para o coronel Naime. 

É a chave esse relatório da Abin. Ali está o esqueleto de onde devemos fazer a investigação” disse o senador. 

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