O sistema tentou resistir, mas a CPMI vai acontecer.


Vladimir Chaves



As imagens de câmeras de segurança reveladas pela CNN não deixam dúvida: o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI) foi leniente diante da invasão do Palácio do Planalto em 8 de Janeiro. A teoria que semanas atrás poderia soar um tanto conspiratória para alguns agora começa a ganhar doses assustadoras de realismo.

Parlamentares da oposição têm feito a sua parte para esclarecer o caso. A bancada do Novo exigia, desde janeiro, o acesso às imagens agora reveladas e pressionava para que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) fosse enfim instaurada.

Mas o sistema tentava resistir. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avançou contra o regimento da própria Casa que preside, para adiar a instauração da CPMI. Quis dar mais tempo para que o governo pudesse “convencer” parlamentares a retirarem o apoio à comissão de investigação. Na Câmara, deputados foram proibidos de expressar sua indignação sobre o comportamento esquivo de Pacheco.

Enquanto isso, o Supremo — que costuma invadir a competência dos outros Poderes quando lhe convém — silenciou. Provavelmente porque os ministros temem ser alvo de investigações também. Não querem que os deputados investiguem acusações de prisões arbitrárias, de maus-tratos nas prisões, de mandados de prisão feitos em série e não individualizados, como manda a lei.

Diante de tanta pressão do sistema congestionando as vias institucionais, só mesmo um furo jornalístico dessa proporção para causar uma reviravolta no jogo político e tornar a abertura da CPMI improrrogável. Enquanto este episódio não estiver esclarecido, o governo não tem legitimidade para impor nenhuma agenda.

Muitos analistas consideraram o 8 de janeiro uma versão tupiniquim da invasão do Capitólio, que ocorreu em Washington, em janeiro de 2021. Mas as descobertas recentes mostram que talvez exista outro paralelo histórico a considerar: o incêndio do Reichstag, de 1933.

Atribuído a um jovem comunista, o incêndio ao Parlamento alemão foi usado por Adolf Hitler como prova de que uma conspiração golpista estava em curso. A suposta ameaça de golpe foi uma justificativa para retirar direitos políticos dos alemães. Até hoje não se sabe se os próprios nazistas estavam envolvidos no atentado.

Só uma boa — e justa — investigação parlamentar é capaz de revelar a verdade por trás da guerra de narrativas — e quais foram as intenções do governo Lula ao abrir as portas, e até servir água, para os invasores do Planalto. É hora de o Brasil exigir transparência sobre um dos momentos mais tensos da história recente da República.

Eduardo Ribeiro, presidente do Novo

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