Itaú diz que é ‘leviana’ a tentativa da Americanas de colocar a culpa nos bancos


Vladimir Chaves



O Itaú Unibanco (ITUB4), um dos credores da Americanas (AMER3), rebateu a tentativa da empresa de atribuir aos bancos a responsabilidade sobre os problemas de contabilidade do grupo varejista, que entrou em recuperação judicial na última quinta-feira (19), com dívida de R$ 43 bilhões. Mais tarde, o Bradesco (BBDC4) também divulgou comentário com argumentos similares.

Nas últimas semanas, os principais bancos privados do país travam uma batalha jurídica para reaver recursos emprestados, às vésperas do início da safra de balanços de 2022, quando os NPLs (dados da inadimplência) devem virar um dos principais pontos de atenção dos analistas, em busca de sinais de deterioração da qualidade de crédito das carteiras, após terem ouvido, no fim do ano, prognósticos de estabilização dos indicadores de atrasos e de provisões ao longo do primeiro semestre de 2023.

“É leviana a tentativa de atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa”, disse o maior banco do país em nota nesta terça-feira (24).

A instituição financeira apontou a diretoria e o conselho de administração como responsáveis pelos balanços da companhia, que tem Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, três dos empreendedores mais bem-sucedidos do país, como acionistas de referência.

“A elaboração e aprovação das demonstrações financeiras que espelhem a realidade da companhia são responsabilidade única e exclusiva da administração da empresa, incluindo sua diretoria e seu conselho, e sem nenhuma influência dos bancos ou outros credores”, disse o Itaú Unibanco.

A rara nota emitida pelo banco, que não costuma se pronunciar em casos pontuais, é mais um sinal da relevância e da importância que ganhou o caso, um dos maiores escândalos corporativos da história do país. A estimativa é que a dívida com os bancos chegue a R$ 18,5 bilhões, segundo o Valor Econômico.

O Itaú Unibanco também disse na nota que o Banco Central também tinha conhecimento das operações envolvendo a Americanas.

 

“As cartas de circularização são apenas um instrumento, dentre muitos, que apoiam a auditoria no trabalho de verificação das informações fornecidas pela administração, e foram respondidas conforme as melhores práticas de mercado. Os saldos das operações também sempre foram reportados no Sistema Central de Risco, mantido pelo Banco Central”, apontou a nota.

O trio que comanda também a 3G Capital, Lemann, Telles e Sicupira, fez referência a esses documentos na nota divulgada no último domingo (22), em sua primeira manifestação pública sobre o caso.

“Contávamos com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC. Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade”, citava a nota da 3G Capital, em que negaram responsabilidade pelo rombo.

Bradesco

Maior credor em “risco sacado”, o Bradesco também divulgou nota com conteúdo semelhante ao de seu concorrente, rebatendo “narrativas” alegadas pela Americanas sobre seus problemas contábeis.

“Não compactuamos com alegações que buscam criar narrativas para atribuir aos bancos qualquer responsabilidade sobre as práticas contábeis irregulares da empresa e, assim, desviar a atenção do problema central, ou seja, a falta de consistência dos números das demonstrações financeiras e as responsabilidades dos seus dirigentes sobre tal fato”, apontou a nota do Bradesco.

O banco de Osasco acrescentou que a governança contábil das empresas é “atribuição exclusiva e não transferível da sua administração, inclusive conselho de administração”.

Desde o anúncio de um rombo contábil de R$ 20 bilhões, há quase duas semanas, no último dia 11, alguns dos maiores bancos do país, que são credores, travam uma batalha judicial com a Americanas, para resguardar seus interesses e acelerar a execução dos vencimentos da dívida.

A varejista decidiu buscar proteção legal, primeiro com uma liminar e, depois, com um pedido de recuperação judicial, para manter as operações em funcionamento.

Na segunda-feira (23), os bancos Santander (SANB11) e Safra, também credores da Americanas, pediram à Justiça que suspenda as garantias obtidas pela Americanas na aceitação do seu pedido de recuperação judicial. O pedido do Safra foi negado na terça.

A Americanas tem um total de 16.300 credores segundo o pedido de recuperação judicial. O BTG Pactual (BPAC11), o primeiro a entrar na justiça para executar a dívida, considerou que a gestão da varejista agiu de “má-fé” no que chamou de “maior fraude do mercado acionário brasileiro”.

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