A Palavra de Deus é clara ao
afirmar que o Senhor não faz acepção de pessoas. Ainda assim, um dos grandes
desafios do cristianismo ao longo da história tem sido o perigo de medir a fé
das pessoas não pelo fruto do Espírito, mas pela placa que está na frente do
templo que frequentam. Quando isso acontece, a essência do Evangelho é
substituída por rótulos, disputas e divisões que não refletem o coração de
Cristo.
A acepção de pessoas por
causa de denominações ou religiões revela um problema mais profundo: a troca da
centralidade de Cristo pela centralidade institucional. O apóstolo Paulo
enfrentou esse problema já na igreja primitiva, quando alguns diziam: “Eu sou
de Paulo”, “eu de Apolo” ou “eu de Cefas”. A resposta do apóstolo foi direta e
confrontadora: “Acaso Cristo está dividido?” (1Co 1.12-13). A pergunta
continua ecoando até hoje.
Tiago adverte com severidade
contra qualquer forma de discriminação no meio do povo de Deus:
“Meus irmãos, não tenhais a
fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg
2.1).
Embora o contexto imediato
trate de distinções sociais, o princípio é o mesmo: toda preferência humana que
diminui o valor do outro fere a fé cristã. Quando alguém é julgado pela igreja
que frequenta, e não pela sinceridade do seu coração diante de Deus, incorre-se
no mesmo erro denunciado pelas Escrituras.
Jesus também confrontou esse
espírito exclusivista. Ao ser questionado sobre quem verdadeiramente pertence
ao Reino, Ele declarou:
“Nem todo o que me diz:
Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu
Pai” (Mt 7.21).
Aqui, o critério não é o
discurso, a tradição ou a filiação religiosa, mas a obediência genuína a Deus.
A placa pode identificar um prédio; nunca foi capaz de definir um coração.
Em Atos dos Apóstolos, Pedro
testemunha uma das mais profundas revelações sobre esse tema ao dizer:
“Reconheço por verdade que
Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em
qualquer nação, o teme e pratica a justiça” (At 10.34-35).
Essa declaração quebra
qualquer tentativa de limitar a ação de Deus a uma estrutura, denominação ou
rótulo religioso. O Senhor olha para o temor, a fé e a prática da justiça, não
para o nome estampado em uma fachada.
Quando a igreja passa a
valorizar mais a identidade denominacional do que a identidade em Cristo,
corre-se o risco de repetir o erro dos fariseus, que conheciam a Lei, mas não
reconheceram o autor da graça quando Ele esteve entre eles (Jo 5.39-40).
O zelo pela instituição, quando não é equilibrado pelo amor e pela verdade,
pode se transformar em soberba espiritual.
O apóstolo Paulo lembra que,
em Cristo, as barreiras humanas são derrubadas:
“Assim que já não sois
estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus”
(Ef 2.19).
A família de Deus não é
definida por placas, mas pelo novo nascimento. É nesse ponto que o Evangelho
nos chama à maturidade espiritual: discernir que unidade não é uniformidade, e
que fidelidade a Cristo é maior do que fidelidade a qualquer sistema humano.
Refletir sobre a acepção de
pessoas por causa de placas de igreja ou religião é um convite ao exame
pessoal. Estamos julgando como Deus julga? Ou estamos olhando apenas para
aquilo que os olhos veem? O Senhor continua a sondar corações (1Sm 16.7),
e a verdadeira fé sempre se revelará não no nome que carregamos, mas na vida
que vivemos para a glória de Deus.
“Nisto conhecerão todos que
sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35).
Essa é a marca que realmente importa.


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