Acepção de pessoas por causa de placas de igreja ou religião


Vladimir Chaves

A Palavra de Deus é clara ao afirmar que o Senhor não faz acepção de pessoas. Ainda assim, um dos grandes desafios do cristianismo ao longo da história tem sido o perigo de medir a fé das pessoas não pelo fruto do Espírito, mas pela placa que está na frente do templo que frequentam. Quando isso acontece, a essência do Evangelho é substituída por rótulos, disputas e divisões que não refletem o coração de Cristo.

A acepção de pessoas por causa de denominações ou religiões revela um problema mais profundo: a troca da centralidade de Cristo pela centralidade institucional. O apóstolo Paulo enfrentou esse problema já na igreja primitiva, quando alguns diziam: “Eu sou de Paulo”, “eu de Apolo” ou “eu de Cefas”. A resposta do apóstolo foi direta e confrontadora: “Acaso Cristo está dividido?” (1Co 1.12-13). A pergunta continua ecoando até hoje.

Tiago adverte com severidade contra qualquer forma de discriminação no meio do povo de Deus:

“Meus irmãos, não tenhais a fé em nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (Tg 2.1).

Embora o contexto imediato trate de distinções sociais, o princípio é o mesmo: toda preferência humana que diminui o valor do outro fere a fé cristã. Quando alguém é julgado pela igreja que frequenta, e não pela sinceridade do seu coração diante de Deus, incorre-se no mesmo erro denunciado pelas Escrituras.

Jesus também confrontou esse espírito exclusivista. Ao ser questionado sobre quem verdadeiramente pertence ao Reino, Ele declarou:

“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mt 7.21).

Aqui, o critério não é o discurso, a tradição ou a filiação religiosa, mas a obediência genuína a Deus. A placa pode identificar um prédio; nunca foi capaz de definir um coração.

Em Atos dos Apóstolos, Pedro testemunha uma das mais profundas revelações sobre esse tema ao dizer:

“Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e pratica a justiça” (At 10.34-35).

Essa declaração quebra qualquer tentativa de limitar a ação de Deus a uma estrutura, denominação ou rótulo religioso. O Senhor olha para o temor, a fé e a prática da justiça, não para o nome estampado em uma fachada.

Quando a igreja passa a valorizar mais a identidade denominacional do que a identidade em Cristo, corre-se o risco de repetir o erro dos fariseus, que conheciam a Lei, mas não reconheceram o autor da graça quando Ele esteve entre eles (Jo 5.39-40). O zelo pela instituição, quando não é equilibrado pelo amor e pela verdade, pode se transformar em soberba espiritual.

O apóstolo Paulo lembra que, em Cristo, as barreiras humanas são derrubadas:

“Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus” (Ef 2.19).

A família de Deus não é definida por placas, mas pelo novo nascimento. É nesse ponto que o Evangelho nos chama à maturidade espiritual: discernir que unidade não é uniformidade, e que fidelidade a Cristo é maior do que fidelidade a qualquer sistema humano.

Refletir sobre a acepção de pessoas por causa de placas de igreja ou religião é um convite ao exame pessoal. Estamos julgando como Deus julga? Ou estamos olhando apenas para aquilo que os olhos veem? O Senhor continua a sondar corações (1Sm 16.7), e a verdadeira fé sempre se revelará não no nome que carregamos, mas na vida que vivemos para a glória de Deus.

“Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.35).

Essa é a marca que realmente importa.

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