Entrevista com Sônia
Guajajara, integrante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e
coordenadora do Protesto que ocorreu terça-feira 27 em frente ao Supremo
Tribunal Federal, em Brasília, com a participação de representantes de mais de
cem povos indígenas. As manifestações que estão ocorrendo em Brasília denunciam
a redução das terras indígenas, a discriminação e violação dos direitos
indígenas.
Depois de protestarem em
frente ao Congresso, os representantes indígenas protocolaram queixa-crime
contra os deputados federais Luís Carlos Heinze (PP/RS) e Alceu Moreira
(PMDB/RS), por terem incitado a violência contra os povos indígenas,
quilombolas, gays e lésbicas em um vídeo publicado na internet, referindo-se a
eles como “tudo que não presta noBrasil”.
ENTREVISTA
-Sônia, qual é o foco
dessas manifestações que estão acontecendo nessa semana em Brasília?
-Nosso foco é um só: A
violação de nossos direitos. Você sabe que há uma regressão e um ataque do
Congresso Nacional aos direitos indígenas, colocando em foco diretamente a
questão da terra. Há uma paralisação da demarcação das terras indígenas. É
importante dar a maior visibilidade possível para esta gravíssima questão.
Todas as PECs que estão
tramitando no Congresso caminham no mesmo sentido, negar as terras aos povos
indígenas, mudar a Constituição e legalizar a exploração das terras em solo
indígena, pelos ruralistas, pelo agronegócio, pelas mineradoras.
Todas as medidas que estão
no Congresso Nacional, seja por meio de PEC ou de PL, possuem este foco, tomar
as terras indígenas. Acabar com este direito.
-E por quê?
-Porque no Brasil o que
realmente está acontecendo é um interesse econômico fortíssimo, e como não há mais
nenhuma terra pública para a produção o que eles estão enxergando para fazer
crescer o país são as terras indígenas, para utilizá-las para a produção em
nome do capital.
Estamos num momento muito
complicado, e essa luta é para manter os nossos direitos e estamos sendo muito
criminalizados por isto. Muitas lideranças indígenas estão sendo presas, em
suas regiões, porque estão lutando pela terra.
E aí temos que vir até
Brasília para denunciar essa situação, e enfrentar uma polícia truculenta.
Levaremos ao Congresso seis indígenas feridos a bala, por causa das repressões
contra a nossa manifestação.
Além dos seis indígenas,
um fotógrafo da Reuters e um padre também foram feridos durante o ataque da
polícia.
-O que você tem a dizer
sobre a criminalização dos povos indígenas?
-A situação hoje é bem
grave. Temos várias lideranças indígenas presas, acusadas de formação de
quadrilha, quando na verdade estão lutando em suas terras, sendo acusadas de
crimes, como sequestro e roubo, e criminalizadas sem provas.
Os próprios deputados usam
a mídia para incitar a violência contra os povos indígenas. Ontem, nós entramos com uma queixa-crime no
Supremo Tribunal Federal (STF) contra dois deputados, por terem feito discursos
agressivos incitando violência contra os povos indígenas.
E nós cobramos um
posicionamento do STF, em relação a esta postura dos deputados. Já que eles
enquanto representantes parlamentares do povo não podem se utilizar desse lugar
para intensificar os conflitos no campo.
A República dos Ruralistas
-Em sua opinião, há uma
articulação dentro do governo?
-Claro! Todos os poderes,
Legislativo, Executivo e Judiciário estão articulados contra os direitos
indígenas. O Judiciário em sua lentidão demora muito e nunca conseguimos ver
nossas terras demarcadas.
O Executivo porque se alia
ao Legislativo, já que ambos têm interesses em comum. E o interesse é também de
campanha, porque o agronegócio é o que acaba financiando as campanhas
eleitorais.
E com isso a aliança entre
eles é muito forte dentro do Congresso. Os deputados são eleitos com esse
dinheiro, e esses três Poderes que estariam para garantir os direitos da
população e a democracia, o que fazem é se aliar ao Poder Econômico dos
Ruralistas.
E aliada a eles, não
podemos nos esquecer, está a Grande Mídia. Porque a mídia praticamente é toda
de políticos que querem jogar para a população uma versão diferente da
realidade, para gerar na sociedade uma ideia errada sobre as lutas dos povos
indígenas do Brasil. E a população fica desinformada.
-O que, então, você
gostaria que a população soubesse?
-Que estamos lutando pelos
nossos direitos, pela nossa existência enquanto povos, pela nossa
sobrevivência, buscando visibilidade, ser escutados, e avisar ao mundo que
nossa luta não é por privilégios, é por direitos. Simplesmente isso. E outros
movimentos já estão se unido a nós, entre eles o MST, os quilombolas e os
extrativistas.
É importante alertar que
quem reverteu tudo não fomos nós. Quem está subvertendo a ordem é o próprio
Congresso.
A população precisa abrir
os olhos e entender que o que existe hoje é uma República Federativa Ruralista
do Brasil, e por isso criamos o site A República dos Ruralistas (http://www.republicadosruralistas.com.br/ ) para denunciar
esse absurdo incontestável, quem hoje manda, legisla e dirige a política no
Brasil são os ruralistas, seja na bancada ruralista, seja fora dela.
Fonte: UITA - Unión
Internacional de Trabajadores de la Alimentación