Vinte
e duas mil. Essa é a
quantidade de obras públicas paralisadas ao redor do país. Muita coisa, não? O
motivo é escandaloso: acredite, falta dinheiro para finalizá-las, não apenas
planejamento. E não pense que é qualquer trocado. Segundo o governo, de R$ 10
mil a R$ 1 bilhão cada, dependendo da complexidade da empreitada.
Se lembra do PAC? Das dez
maiores obras anunciadas pelo governo, apenas duas foram concluídas. Na área da
saúde, a média é ainda pior: de cada dez obras prometidas, só uma conseguiu
funcionar a pleno vapor até o momento.
O Brasil virou um grande
canteiro de obras, sugando cada centavo do dinheiro dos pagadores de impostos.
E aqui, nós separamos 11 dessas construções mastodônticas que não param de
assaltar o seu bolso.
1. A ferrovia que só
transporta forrozeiros: Transnordestina.
Idealizada para ligar os
portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, além do Estado do Piauí, a
Ferrovia Transnordestina deveria ser o maior projeto ferroviário do primeiro
PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
No entanto, dos 1700 km
projetados, apenas 600 km foram entregues até agora, mais de 10 anos após o
início da construção. Com gastos de R$ 4 bilhões previstos inicialmente, R$ 6,2
bilhões já foram investidos e outros R$ 5,5 bilhões ainda devem ser necessários
para a conclusão da obra (que está 52% terminada, uma vez que a parte de
viadutos encontra-se mais avançada do que os trilhos).
Ao contrário do modelo
tradicional de construção ferroviária, a Transnordestina não começou a ser
construída do porto para o interior, mas na direção oposta. Caso optasse pelo
modelo padrão, a ferrovia poderia ter começado a operar com meros 30 Km
concluídos, ligando cidades do entorno de Suape ao porto, permitindo desafogar
a logística na região.
Sua grande vantagem era o
sócio privado, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que, além de assumir
parte dos gastos (25% do total), ajudaria a cobrar resultados. Para a CSN,
porém, a obra foi um grande transtorno e colaborou significativamente para
derrubar o valor de mercado da companhia, uma vez que os recursos drenados para
a obra deixaram de ser investidos em áreas mais lucrativas, como a mineradora
Casa de Pedra, seu principal ativo.
Com o caixa da mineradora
vazio graças à queda no preço das commodities e o governo relutando em liberar
mais recursos públicos, a obra começou a andar em marcha lenta. A siderúrgica
fingia que pagava e a Odebrecht, responsável pela obra, fingia que produzia.
Apesar dos atrasos e do
alto custo, a ferrovia não é de todo inútil: cerca de 300 mil pessoas já foram
transportadas no chamado trem do forró, uma festividade que ocorre na época das
festas juninas e que utiliza os trilhos da ferrovia para percorrer parte do
interior dos 3 estados.
2. O estado que decidiu
construir um aquário em meio à maior seca dos últimos 100 anos.
Que o Ceará possui uma
vocação turística invejável, não há como negar. As belas praias do estado, como
Jericoacoara e Canoa Quebrada, são reconhecidas mundialmente e atraem milhares
de turistas todos os anos. Para o estado, porém, isto ainda é pouco. É preciso
oferecer aos turistas opções para que permaneçam por mais tempo, consumindo e
gerando empregos.
Proporcionalmente, nenhum
governo brasileiro investia tanto quanto o cearense. O resultado de tanto
espaço para se endividar foi um descomedimento por parte do governo, em
especial na gestão do ex-governador Cid Gomes.
Em tese, o aquário deveria
custar US$ 150 milhões, sendo US$ 105 milhões por parte do americano Ex-Im Bank
e o restante vindo dos cofres estaduais. Os recursos do tesouro saíram. Já o
financiamento estrangeiro, aguarda uma última etapa para liberação.
O sucessor de Cid, Camilo
Santana (PT), considera a continuação da obra inviável. O investimento foi alto
demais e o retorno tornou-se incerto. O que fazer com a obra então? Para o
atual governador, a resposta é simples: privatizar.
Uma consultoria deve ser
contratada para analisar os termos e então repassar a obra para a iniciativa
privada.
3. O Metrô que levou 12
anos para ser inaugurado e ainda não está pronto.
Iniciada em 2000, a obra
do metrô em Salvador, capital da Bahia, deveria ser uma das maiores obras de
mobilidade do país. Desde que a promessa surgiu, o projeto foi tema de três
campanhas eleitorais estaduais e duas presidenciais. Na última delas, a
ex-presidente Dilma Rousseff andava na linha 1, ainda inconcluída, para
demonstrar a entrega do projeto.
Isto, porém, é apenas
parte do que deve ser o metrô. A linha 2, que praticamente triplicará o número
de usuários, ainda aguarda a conclusão de três estações e, se nada der errado,
estará pronta em 2017, a tempo portanto de aparecer nas eleições de 2018 como
uma grande conquista.
Para o New York Times, que
deu destaque ao metrô da capital baiana em uma matéria sobre obras abandonadas
e inacabadas no Brasil (ainda em 2014), o grande destaque era outro: o custo da
obra triplicou. Deveria custar R$ 350 milhões na primeira fase, e saiu por R$
1,4 bilhão.
A construção da obra reúne
nada menos do que todas as cinco maiores empreiteiras do país em um único
consórcio. Para o TCU, a obra contém superfaturamento em determinados trechos,
motivo pelo qual a interrupção foi pedida em 2012, paralisando a obra.
4. A Transposição do São
Francisco: já foi inaugurada, mas a conclusão ficou para 2018.
Inaugurar obras
incompletas não é nenhuma novidade quando se trata do Brasil. Inaugurações de
trechos e promoção de múltiplos eventos tornaram-se um padrão para os últimos
governos do país. Como já era de se esperar, o mesmo ocorreu com a transposição
das águas do Rio São Francisco.
Idealizada no século XIX
por Dom Pedro II, a construção começou a ser tocada em 2005 e, em 2007, foi
incluída no PAC1. Entre 2005 e 2015, entre R$ 8,37 bilhões e R$ 9,5 bilhões
foram investidos (sequer o valor gasto até aqui é conhecido com exatidão), mais
do que o dobro do valor de R$ 4,5 bilhões previsto inicialmente. Para ser
concluída, a obra ainda demandará R$ 1,1 bilhão.
Os desvios de recursos da
obra já chegaram a ser alvo de uma operação da Polícia Federal, intitulada
Vidas Secas. Em meio à seca que atinge a região Nordeste há pelo menos cinco
anos, a obra ainda é uma promessa.
5. A refinaria que custou
oito vezes o valor inicial previsto e levou calote do sócio.
Um símbolo da união entre
Brasil e Venezuela, a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, chegou a ser
inaugurada pelos presidentes dos dois países (Lula e Hugo Chávez). Era a
primeira grande refinaria construída em décadas, com um orçamento de US$ 2,4
bilhões cedidos em parceria pela Petrobras e PDVSA, a estatal venezuelana de
petróleo.
A ideia de refinar
petróleo venezuelano, agregando valor a ele e ajudando os dois países a se
tornarem menos dependentes dos preços internacionais não passou de um sonho. O
pesadelo, entretanto, veio com a conta: a refinaria custará, segundo
estimativas, US$ 20 bilhões quando estiver totalmente concluída. A parte da
PDVSA, porém, não virá. A empresa deu oficialmente um calote na sua parte, mas
contou com a generosidade brasileira: a Petrobras perdoou o calote e abriu mão
de cobrar o valor.
As constatações de
superfaturamento na obra, que já somam dezenas de denúncias, chegaram a ser
julgadas pelo juiz Sergio Moro e já ultrapassaram a casa dos bilhões de reais.
6. Os parques eólicos que
produzem energia que ninguém usa.
Restam poucas dúvidas de
que o setor de energia eólica realmente decolou no Brasil. Já foram dezenas de
bilhões em investimentos apenas nos últimos dois anos e nada menos do que 166
parques construídos até 2015.
Construir um parque, no
entanto, é apenas parte da questão. É preciso escoar a produção por meio de
linhas de transmissão e é justamente aí que reside o problema. Segundo o TCU, o
atraso médio na construção de usinas está em dez meses (para 88% dos casos),
contra 14 meses de atraso médio nas linhas de transmissão. O resultado é um
desencontro cujo custo chega em R$ 4 bilhões. Do total de parques já
construídos, 34 apresentam falhas neste sentido.
7. A Ponte do Rio Que Cai.
Clássico dos anos 50, “A
Ponte do Rio Kwai” narra a saga da construção de uma ponte ferroviária na selva
tailandesa durante a Segunda Guerra. Construída por prisioneiros ingleses a
mando dos japoneses, a obra levou alguns poucos meses para ser erguida, até que
é destruída pelos ingleses durante seu primeiro uso, para parar o avanço
japonês.
Por aqui, sem estarmos em
guerra – exceto com os políticos e a lentidão da coisa pública -, nossas pontes
levam anos ou décadas para serem construídas e, sem necessitar de nenhum
bombardeio inglês, muitas acabam por cair de abandono.
Este é o caso de obras
como a ponte do riacho Taipa, no Rio Grande do Sul, que deveria facilitar o
transporte na ER-132 e hoje não passa de escombros. É também o caso a da ponte
que liga os bairros de Iputinga e Monteira, no Recife, que sequer projeto
possui, muito menos prazo para ser concluída.
Em meio à Serra do Mar, em
São Paulo, dois viadutos, de 100 e 360 metros, simbolizam a desordem na gestão
do governo federal. Estão há 40 anos abandonados, graças a uma mudança de rumo
dos investimentos públicos ocasionada pela crise do petróleo.
8. Ferrovia Norte-Sul.
Ligar a região Norte à
região Sul do Brasil por meio de transporte ferroviário pode parecer uma utopia
em um país que notadamente relegou o investimento ferroviário ao segundo plano.
Na prática, porém, a história está mais para uma distopia. Atrasos em ferrovias
levam décadas, custam bilhões, e deixam os entusiastas da área quase sempre
decepcionados.
Graças à não conclusão da
obra, o país segue perdendo US$ 12 bilhões em negócios que deixam de ser feitos
e impostos que deixam de ser arrecadados.
No trecho de 855 km entre
Palmas (TO) e Anápolis (GO), a inauguração ocorreu em clima de campanha, ainda
em maio de 2014. Foram gastos R$ 4,2 bilhões, apenas neste trecho. De lá pra
cá, porém, quase nada da ferrovia foi de fato utilizado, exceto por alguns
poucos comboios de farelo de soja.
Em apenas dois trechos da
ferrovia, que juntos somam cerca de 30% do total, os sobrepreços já ultrapassam
R$ 5,1 bilhões.
9. A aviação regional no
Brasil não decolou.
Ligar o país por meio da
aviação regional parece mais um daqueles planos óbvios que quando são vistos
pela primeira vez você sempre se pergunta: afinal, por que ninguém pensou nisso
antes?
Companhias de baixo custo,
como a JetBlue (do mesmo fundador da brasileira Azul), nasceram nos Estados
Unidos, exatamente com o objetivo de atender este mercado. Afinal, se podemos
viajar para cidades menores no interior no conforto de um avião, por que
encarar horas e horas nas mal conservadas estradas brasileiras?
Em Paris, no ano de 2012,
a ex-presidente Dilma anunciou a construção de 800 aeroportos regionais. Dois
anos depois, discretamente, a meta se tornou um pouco mais modesta: 270. Em
2015, sem construir nenhum, a meta se tornou menos ambiciosa: 190 até 2018.
Em 2016 porém, os planos
megalomaníacos foram para a gaveta. Serão 53 aeroportos construídos até 2020.
10. Comperj
O convite para que
empreiteiras estrangeiras venham trabalhar no Complexo Petroquímico do Rio de
Janeiro é mais um capítulo na saga do que deveria ser a maior obra brasileira,
de proporções monumentais e uma das dez obras que mais demandaram investimentos
em todo o planeta.
Lançada em 2006, a obra
era inicialmente prevista para custar US$ 6,5 bilhões. Hoje, porém, o custo
está estimado em US$ 30,5 bilhões e a conclusão ainda é incerta.
No início do projeto, a
obra era tocada por ninguém menos que Paulo Roberto Costa, um dos principais
nomes envolvidos na Operação Lava Jato e então diretor da Petrobras.
11. Uma triste realidade
sobre o Brasil: não estamos preparados para receber extraterrestres.
Manter boas relações
diplomáticas com estrangeiros é, via de regra, uma tradição brasileira. Não
somos um país de entrar em conflitos e nos orgulhamos disso. Nos últimos anos,
por exemplo, inauguramos uma embaixada na capital da Coréia do Norte, ao custo
de alguns poucos milhões.
Na teoria, o Brasil
pretendia ajudar a Coréia do Norte a se sentir menos acuada e assim colaborar
com a paz mundial.
O intuito é nobre, mas
infelizmente este não seria o resultado no caso de uma invasão alienígena ao
Planeta Terra. Nesta situação, dificilmente conseguiríamos realizar de forma
satisfatória um encontro com habitantes de outros planetas. Afinal, como
relatou o New York Times, nosso museu em Varginha, a capital nacional da
ufologia, segue abandonado. As obras, que consumiram R$ 1 milhão em recursos do
Ministério do Turismo, para narrar a história do conhecido avistamento na
cidade nos anos 90, não foram para a frente.
Nem mesmo o nobre gesto da
ex-presidente Dilma Rousseff, que declarou em 2013 ter enorme respeito pelo ET
de varginha, garante que teremos um bom relacionamento com eventuais
visitantes.
Por Spotniks.