O Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores na Paraíba apresenta para as diversas forças todas as contradições possíveis e imagináveis. A maior de todas as contradições certamente é o fato de que, sendo um instrumento criado para a ampla participação dos milhares de filiados e filiadas, esta edição do PED está marcada pela desmotivação e desmobilização para o debate de ideias e propostas, no que era uma das melhores tradições do PT.
A prefeiturização do PED e do PT – A mais flagrante anomalia do PED e do PT na Paraíba é o peso que a prefeitura de João Pessoa tem a esta altura do processo. O prefeito Luciano Cartaxo, diga-se de passagem eleito graças à martirização do então prefeito Luciano Agra em 2012, impôs a candidatura do seu irmão gêmeo univitelino para presidência do partido na capital.
A candidatura de Lucélio Cartaxo, eminente militante do bloco Picolé de Manga, desceu goela abaixo, em detrimento das pretensões de vários outros quadros que militam no PT há muitos anos.
O prefeito de João Pessoa neste PED já está cuidando com muita antecipação da sua própria reeleição em 2016, inclusive da aliança com o PPS, inimigo visceral do PT a nível nacional e do PSC, que também terá candidato contra a reeleição da presidenta Dilma. Mas a política da família Cartaxo já lança os tentáculos do poder municipal sobre o PT da Paraíba.
Cartaxo sob pressão – Mas, a prefeiturização do PT impõe ao prefeito e ao chamado “campo majoritário” do partido, que acolhe a política de base familiar dos Cartaxos, um grande ônus: O prefeito, que age como se fosse a instância partidária, tem a grande responsabilidade de dar respostas sobre 2014.
O desvio que desvirtua a democracia do PT cobra seu preço: Luciano Cartaxo está sendo pressionado a dizer o que quer para o PT em 2014, para além do projeto familiar de eleger o seu irmão Lucélio para algum cargo da república no próximo ano.
Que fazer diante das pesquisas que apontam uma retumbante vitória dos partidos governistas na Paraíba se as eleições fossem hoje? – Essa questão está tirando o sono do prefeito Cartaxo e do seu staff político.
A tese da candidatura própria – Até aqui não foi possível decifrar o porquê de Lenildo Morais defender que o PT apresente-se com uma candidatura própria a governador da Paraíba em 2014. Esta é a principal plataforma da candidatura de Lenildo Morais para presidente do PT da Paraíba.
Já vimos esta história: Quando frei Anastácio foi eleito presidente do PT da Paraíba, a candidatura própria era o seu mote e de muitos outros. Mas, em seguida o incorruptível Anastácio foi tragado e não resistiu às negociações do PT em nível nacional. O PT da Paraíba à época foi entregue de bandeja ao PMDB.
O blefe da candidatura própria – O “campo majoritário” do PT na Paraíba, comandado pelo prefeito Luciano Cartaxo, já fez diversas firulas discursivas ao longo deste ano de 2013. Anteciparam-se ao PED defendendo a candidatura própria do PT para o governo da Paraíba.
No projeto de candidatura própria, faltou combinar com o “gringo”: O nome seria Luciano Agra que, ressabiado com o PT da capital, filiou-se aos neo-conservacionistas do PEN. – Agra descobriu tardiamente que no PT há petistas e petistas.
Sem Agra no PT, o pessoal da prefeitura de João Pessoa e do “campo majoritário” do PT mudou o discurso. O protagonismo do PT seria concretizado com a indicação de um petista para qualquer uma das outras vagas da chapa majoritária. Apesar da enrolação em torno do “blocão”, o prefeito Cartaxo e o ex-governador Maranhão acertavam os ponteiros reservadamente.
PMDB ou PP – O jogo da família Cartaxo é com o PMDB, por mais que se publique, com espírito megalomaníaco, a construção de um “blocão” com o PP do ministro Agnaldo Ribeiro. O que se tem de fato não é um “blocão”, mas um bloquinho, inclusive com adversários do projeto nacional do PT.
A retomada da defesa da candidatura própria é jogo de cena para setores do PT que foram massacrados pelo PMDB nas eleições municipais de 2012, principalmente em Campina Grande. – A tese da candidatura própria é blefe, mesmo porque não há no horizonte um novo martírio para outro Agra.
E o PED no que vai dar? – A prevalecer o projeto da família Cartaxo e do “campo majoritário”, o PT vai ser moeda de troca para o PMDB, com seus cacicados mais cacifados para uma candidatura ao governo do Estado. A família Ribeiro do PP não tem convicções para um voo desta envergadura e prefere a várzea à montanha.
A prevalecer no PED as demais forças que nadam contra a maré – A Mensagem com Luiz Couto e o Movimento PT, a Articulação de Esquerda e a Militância Socialista com Lenildo Morais – o debate no Partido dos Trabalhadores na Paraíba continuará franco e aberto, com clara possiblidade de não se ver o partido rifado na mesa de negociações, onde também sentam insaciáveis convivas da política de base familiar que é legítima herdeira das oligarquias.
Em tempo: O que se quer é que em um provável e desejável segundo governo, a presidente Dilma Rousseff não fique refém de partidos como o PMDB, PP, PR e outros do mesmo naipe que já fazem escola dentro do PT da capital paraibana.
(Artigo publicado no site deputado Luis Couto)