Imagens na Bíblia: Entre arte e idolatria


Vladimir Chaves

O versículo de 1 Reis 6:29 descreve a construção do Templo de Salomão e menciona que as paredes internas foram “lavradas de entalhes de querubins, palmeiras e flores abertas, por dentro e por fora”. Isso significa que Deus permitiu a presença de imagens no lugar mais sagrado do culto israelita, mas com um detalhe crucial: essas imagens não eram objetos de adoração, e sim elementos artísticos e simbólicos.

Deus não proíbe toda imagem

Ao contrário do que muitos interpretam, a proibição bíblica em Êxodo 20:4-5 não se refere à existência de qualquer imagem ou escultura, mas ao uso delas como ídolos:

“Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra... não as adorarás nem lhes darás culto.”

A ênfase está em não fabricar imagens para culto ou para substituir Deus. A própria Bíblia mostra que representações visuais podiam ser usadas quando o objetivo era pedagógico, decorativo ou simbólico.

Exemplos bíblicos do uso legítimo de imagens

Querubins no Templo e na Arca da Aliança (Êxodo 25:18-22; 1 Reis 6:29), figuras angelicais feitas de ouro, colocadas sobre a tampa da Arca, representando a presença protetora de Deus.

Romãs e flores nas vestes sacerdotais (Êxodo 28:33-34) — arte têxtil com valor simbólico.

Serpente de bronze (Números 21:8-9) — imagem feita por ordem de Deus para que, ao olhar para ela, os israelitas picados por serpentes fossem curados.

Imagens no Templo restaurado por Ezequiel (Ezequiel 41:18-19), ornamentos que reforçavam a mensagem espiritual.

Quando a imagem se torna pecado

O problema começa quando a imagem deixa de ser arte e se torna ídolo, recebendo culto, devoção, orações ou sendo vista como mediadora com Deus. Foi exatamente isso que aconteceu com a serpente de bronze, que inicialmente foi instrumento de cura, mas séculos depois passou a ser adorada. O rei Ezequias a destruiu (2 Reis 18:4), mostrando que até algo originalmente ordenado por Deus pode se tornar objeto de idolatria.

A diferença entre símbolo e substituto

Símbolo legítimo: leva a mente e o coração para Deus, sem receber culto em si.

Substituto ilegítimo: toma o lugar de Deus, recebendo adoração, orações e confiança.

A questão não é a matéria da qual a imagem é feita, mas o papel que ela ocupa no coração humano.

O cristão precisa discernir entre apreciar arte, arquitetura ou símbolos cristãos, e atribuir-lhes poder espiritual independente de Deus. Cruz, peixe, vitrais, ilustrações bíblicas, tudo pode ser usado para edificação e beleza, desde que não sejam transformados em objetos de veneração.

1 Reis 6:29 não contradiz a proibição do segundo mandamento; pelo contrário, reforça que o problema não está na imagem, mas no uso que fazemos dela. Deus é Espírito e deve ser adorado em espírito e em verdade (João 4:24). A arte pode inspirar, ensinar e lembrar-nos de verdades espirituais, mas nunca substituir a presença viva do Senhor.

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