Impérios como Roma e
Mesopotâmia entre tantos outros, espalharam-se por territórios imensos, criaram
culturas sofisticadas e instituições complexas que influenciaram cada aspecto
do cotidiano de seus habitantes — até, séculos depois, e por diversas razões,
sucumbirem. A civilização ocidental segue o mesmo caminho e está a um salto do
abismo, segundo um estudo divulgado ontem pela Nasa. As raízes do colapso são o
crescimento da população e as mudanças climáticas.
O estudo foi baseado em um
modelo desenvolvido por um matemático da Universidade de Maryland. Safa
Motesharrei analisou ciências ambientais e sociais e concluiu que a modernidade
não vai livrar o homem do caos. Segundo ele, “o processo de ascensão-e-colapso
é, na verdade, um ciclo recorrente encontrado em toda a História”.
“A queda do Império
Romano, e também (entre outros) dos impérios Han, Máuria e Gupta, assim como
tantos impérios mesopotâmios, são testemunhos do fato de que civilizações
baseadas em uma cultura avançada, sofisticada, complexa e criativa também podem
ser frágeis e inconstantes”, escreveu em seu estudo, financiado pelo Goddard
Space Flight Center, da Nasa.
Motesharrei lista os
ingredientes para o fim do mundo. O colapso pode vir da falta de controle de
aspectos básicos que regem uma civilização, como a população, o clima, o estado
das culturas agrícolas e a disponibilidade de água e energia. O Observatório da
Nasa já constatou diversas vezes a multiplicação de eventos climáticos
extremos, como o frio intenso do último inverno na América do Norte e o calor
que, nos últimos meses, afligiu a Austrália e a América do Sul. Seus estragos
paralisam setores vitais para o funcionamento da sociedade.
A economia também
desempenha um papel importante. Quanto maior for a diferença entre ricos e
pobres, maiores as chances de um desastre. Segundo a pesquisa, a desigualdade
entre as classes sociais pauta o fim de impérios há mais de cinco mil anos.
Com o desenvolvimento
tecnológico, agricultura e indústria registraram um aumento de produtividade
nos últimos 200 anos. Ao mesmo tempo, porém, contribuíram para que a demanda
crescesse de um modo quase incessante. Hoje, se todos adotassem o estilo de
vida dos americanos, seriam necessários cinco planetas para atender as
necessidades da população. Por isso, segundo Motesharrei e sua equipe, “achamos
difícil evitar o colapso”.
A pesquisa da Nasa, no
entanto, ressalta que o fim da civilização ainda pode ser evitado, desde que
ela passe por grandes modificações. As principais são controlar a taxa de crescimento
populacional e diminuir a dependência por recursos naturais — além disso, estes
bens deveriam ser distribuídos de um modo mais igualitário.
No documento, a agência
lida mais com análises teóricas. Outros estudos mostram como crises no clima ou
em setores como o energético podem criar uma convulsão social.
Ignorância sobre o clima
Outra pesquisa, divulgada
ontem pela Associação Americana para o Avanço da Ciência, faz uma espécie de
cartilha para os principais debates sobre as mudanças climáticas.
Professor da Universidade
da Califórnia, Mario Molina (vencedor do Nobel por ter descoberto a camada de
ozônio) destaca que, devido às emissões de carbono, o clima é, hoje, mais
imprevisível do que há milhões de anos. Molina alerta que os gases-estufa ficarão
na atmosfera por mais de uma geração e que, por isso, é preciso tomar ações
urgentes para reduz a emissão de gases-estufa.
Mesmo rodeado por
fenômenos rigorosos, como nevascas e furacões, apenas 42% dos americanos
acreditavam, em 2013, que a maioria dos cientistas estava convencido do
aquecimento global. Molina ressalta que 97% da comunidade científica está certa
da influência do homem. O relatório conclui que faltam informações básicas para
a sociedade entender como é grave o momento atual.
Fonte: O Globo.
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