8 de janeiro: Justiça sem misericórdia não vem de Deus, vem do sistema apodrecido


Vladimir Chaves

“Aparte-se da injustiça todo aquele que professa o nome do Senhor.” (2 Timóteo 2:19)

Este versículo é um chamado direto à coerência entre fé e prática. Paulo lembra que confessar o nome do Senhor não é apenas uma declaração verbal, mas um compromisso visível com a justiça, a verdade e a retidão. Não há espaço, à luz do Evangelho, para uma fé que se acomoda à injustiça quando ela convém.

Quando observamos o cenário político atual, causa perplexidade ver políticos que se apresentam como cristãos, citam a Bíblia, frequentam igrejas e buscam o voto do povo de fé, mas se opõem ao perdão e à revisão das penas impostas aos manifestantes do 8 de janeiro, mesmo diante de punições claramente desproporcionais, seletivas e, em muitos casos, desumanas. Essa postura revela uma contradição profunda entre o discurso religioso e a prática moral.

A Bíblia é clara ao afirmar que Deus ama a justiça e rejeita a opressão. O Senhor não se alegra com penas absurdas, com condenações coletivas, nem com o sofrimento imposto sem o devido equilíbrio entre lei, misericórdia e verdade. Defender punições injustas, apenas para agradar ao sistema ou preservar conveniências políticas, é alinhar-se à injustiça, exatamente o oposto do que o texto bíblico ensina.

Jesus foi firme contra o pecado, mas igualmente firme contra a hipocrisia. Ele confrontou líderes religiosos que usavam a fé como aparência, enquanto seus atos negavam o coração da Lei, que é o amor, a justiça e a misericórdia. O cristão verdadeiro não se cala diante do abuso, não relativiza a injustiça e não sacrifica pessoas no altar do poder.

Portanto, à luz de 2 Timóteo 2:19, é legítimo e necessário questionar: como alguém pode professar o nome do Senhor e, ao mesmo tempo, sustentar um sistema que pune de forma exagerada, seletiva e vingativa? A fé cristã não pode ser instrumento de propaganda, nem escudo para omissão moral.

Apartar-se da injustiça, hoje, significa ter coragem de defender o que é justo, mesmo quando isso custa popularidade, cargos ou alianças políticas. Significa lembrar que, acima de qualquer ideologia ou interesse partidário, está o compromisso com Deus e com a dignidade humana.

A fé que não confronta a injustiça deixa de ser fé bíblica e se transforma apenas em retórica vazia.

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