Ansiedades que devemos e não devemos levar ao altar


Vladimir Chaves

“...lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós” (1 Pedro 5:7)

Charles Spurgeon, no início de seu livro “Vencendo a Ansiedade”, adverte que nenhum preceito bíblico, isoladamente, contém todo o dever do cristão. As Escrituras apresentam preceitos que se apoiam uns nos outros, como se fossem degraus que nos conduzem a uma compreensão mais profunda da fé. Nesse sentido, antes de lançarmos ansiedades sobre Deus, o apóstolo Pedro nos lembra: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, vos exalte” (1 Pe 5:6). Assim, o caminho para vencer a ansiedade começa pela humildade diante do Senhor.

A vida cristã exige reconhecer a soberania de Deus em todas as áreas, inclusive sobre nossas preocupações. Muitas vezes, os pesos que carregamos não são frutos de circunstâncias inevitáveis, mas da nossa resistência em confiar plenamente em Deus. A verdadeira humildade tem o poder de dissipar ansiedades, pois nos coloca no devido lugar de dependência. Quando aceitamos que não temos controle absoluto sobre a vida, descansamos na certeza de que Deus governa todas as coisas com sabedoria e cuidado.

Contudo, nem toda ansiedade deve ser levada ao altar. Existem inquietações que nascem de desejos egoístas, da busca por reconhecimento humano ou da cobiça por honras e privilégios. Pedir a Deus que satisfaça nossas ambições pessoais é transformar a oração em afronta à sua santidade. Esses anseios não refletem submissão, mas orgulho. Também há preocupações criadas apenas em nossa mente, frutos de medos irreais e de uma tentativa de antecipar o futuro. Tais ansiedades não vêm de Deus, mas da falta de confiança em sua providência, tornando a mente um terreno fértil para a inquietação.

Por outro lado, existem fardos legítimos que podemos e devemos lançar diante do Senhor. Jesus nos convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11:28). Entregar nossas dores a Deus não significa ausência de lutas, mas garantia de cuidado e sustento. Ele não remove todas as aflições, mas nos fortalece para enfrentá-las com fé. Ao levarmos nossos pesos ao altar, experimentamos a troca maravilhosa: a sobrecarga dá lugar a uma confiança que liberta e renova as forças.

Por fim, vencer a ansiedade não significa viver sem problemas, mas aprender a descansar diariamente em Deus. Spurgeon lembra que Jesus advertiu contra a preocupação excessiva (Mt 6:25-34), pois ela não acrescenta nada à vida, apenas consome energias. A confiança no Senhor é o verdadeiro antídoto para a inquietação: Ele conhece nossas necessidades e jamais nos abandona. Por isso, o apóstolo Paulo nos exorta: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez digo: alegrai-vos” (Fp 4:4). A verdadeira paz nasce quando nos humilhamos sob a poderosa mão de Deus e descansamos em seu tempo, descobrindo que a ansiedade perde força diante da certeza do cuidado divino.

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