A vida cristã não pode estar
dissociada da vida em sociedade. O apóstolo Paulo, em Romanos 13:7,
já nos ensinava que devemos dar “a cada um o que lhe é devido: imposto a quem
imposto, tributo a quem tributo, temor a quem temor, honra a quem honra”. Ou
seja, a política faz parte da vida em sociedade e, por consequência, também da
vida do cristão. Como sal e luz no mundo (Mt 5:13-16), o
discípulo de Cristo é chamado a exercer influência em todos os âmbitos,
inclusive no político, que molda leis, costumes e valores de uma nação.
A Escritura nos oferece
exemplos de servos de Deus que atuaram em posições de governo: José, que como
governador do Egito preservou vidas em tempos de crise; Ester, que como rainha
da Pérsia intercedeu pelo seu povo; e Daniel, que mesmo em meio a impérios
pagãos, permaneceu fiel e foi referência de integridade e sabedoria. Esses
testemunhos mostram que a presença do justo em lugares de poder é não apenas
legítima, mas necessária.
Infelizmente, durante muito
tempo a omissão política da igreja evangélica abriu espaço para que ateus,
ímpios e imorais ocupassem o poder, moldando leis e valores contrários à
cultura judaico-cristã. Essa omissão não foi neutra, mas colaborou para a ascensão
de ideologias e lideranças que afrontam a fé e a moral bíblica. Nos últimos
anos, contudo, observa-se um amadurecimento: muitos cristãos têm despertado
para a necessidade de participar e se posicionar. Mas ainda é preciso
aprofundar a consciência política, aprendendo a distinguir entre vocação
pública e politicagem, lembrando sempre que a atuação deve ser feita com temor
a Deus.
O alerta de Paulo à igreja
de Corinto permanece atual: “Não vos prendais a um jugo desigual com os
infiéis... que comunhão tem a luz com as trevas?” (2Co 6:14-15).
Esse princípio nos chama à coerência. Não é aceitável apoiar políticos ou
partidos cujas bandeiras afrontam diretamente as convicções cristãs,
especialmente aqueles que defendem ideologias contrárias à fé, como o
comunismo, que historicamente perseguiu a igreja e substituiu a confiança em
Deus pela idolatria ao Estado.
Todavia, é igualmente
necessário estabelecer limites éticos. O púlpito da igreja não é palanque
eleitoral. O espaço de culto deve ser preservado para a adoração e a pregação
da Palavra. Misturar campanha política com liturgia é desvirtuar a missão da
igreja. Entretanto, líderes espirituais têm sim a responsabilidade de instruir
os fiéis a observarem propostas, estatutos partidários e trajetórias de
candidatos sob a ótica bíblica, lembrando da advertência de Isaías 5:20:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal”.
Outro ponto essencial é não
depositar a esperança em políticos. Ainda que Deus levante homens e mulheres
íntegros para governar, a confiança final do cristão jamais deve se deslocar de
Cristo. Nossa identidade é espiritual, e perder isso é cair na idolatria
política. A atuação política deve ser exercida com discernimento, equilíbrio e
sabedoria, reconhecendo que a igreja não pode se ausentar da arena pública, mas
também não pode confundir missão espiritual com militância partidária.
Portanto, a igreja é chamada
a ocupar seu espaço na sociedade, influenciando-a positivamente, sem negociar
seus valores eternos nem ceder ao pragmatismo. Cabe ao cristão ser voz
profética, critério de luz em meio às trevas, exemplo de integridade e esperança.
Afinal, somente quando a política é iluminada pela fé é que ela deixa de ser
instrumento de corrupção e se torna instrumento de justiça.
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