Política, fiéis e Cristo – Qual deve ser a postura da igreja?


Vladimir Chaves

A vida cristã não pode estar dissociada da vida em sociedade. O apóstolo Paulo, em Romanos 13:7, já nos ensinava que devemos dar “a cada um o que lhe é devido: imposto a quem imposto, tributo a quem tributo, temor a quem temor, honra a quem honra”. Ou seja, a política faz parte da vida em sociedade e, por consequência, também da vida do cristão. Como sal e luz no mundo (Mt 5:13-16), o discípulo de Cristo é chamado a exercer influência em todos os âmbitos, inclusive no político, que molda leis, costumes e valores de uma nação.

A Escritura nos oferece exemplos de servos de Deus que atuaram em posições de governo: José, que como governador do Egito preservou vidas em tempos de crise; Ester, que como rainha da Pérsia intercedeu pelo seu povo; e Daniel, que mesmo em meio a impérios pagãos, permaneceu fiel e foi referência de integridade e sabedoria. Esses testemunhos mostram que a presença do justo em lugares de poder é não apenas legítima, mas necessária.

Infelizmente, durante muito tempo a omissão política da igreja evangélica abriu espaço para que ateus, ímpios e imorais ocupassem o poder, moldando leis e valores contrários à cultura judaico-cristã. Essa omissão não foi neutra, mas colaborou para a ascensão de ideologias e lideranças que afrontam a fé e a moral bíblica. Nos últimos anos, contudo, observa-se um amadurecimento: muitos cristãos têm despertado para a necessidade de participar e se posicionar. Mas ainda é preciso aprofundar a consciência política, aprendendo a distinguir entre vocação pública e politicagem, lembrando sempre que a atuação deve ser feita com temor a Deus.

O alerta de Paulo à igreja de Corinto permanece atual: “Não vos prendais a um jugo desigual com os infiéis... que comunhão tem a luz com as trevas?” (2Co 6:14-15). Esse princípio nos chama à coerência. Não é aceitável apoiar políticos ou partidos cujas bandeiras afrontam diretamente as convicções cristãs, especialmente aqueles que defendem ideologias contrárias à fé, como o comunismo, que historicamente perseguiu a igreja e substituiu a confiança em Deus pela idolatria ao Estado.

Todavia, é igualmente necessário estabelecer limites éticos. O púlpito da igreja não é palanque eleitoral. O espaço de culto deve ser preservado para a adoração e a pregação da Palavra. Misturar campanha política com liturgia é desvirtuar a missão da igreja. Entretanto, líderes espirituais têm sim a responsabilidade de instruir os fiéis a observarem propostas, estatutos partidários e trajetórias de candidatos sob a ótica bíblica, lembrando da advertência de Isaías 5:20: “Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal”.

Outro ponto essencial é não depositar a esperança em políticos. Ainda que Deus levante homens e mulheres íntegros para governar, a confiança final do cristão jamais deve se deslocar de Cristo. Nossa identidade é espiritual, e perder isso é cair na idolatria política. A atuação política deve ser exercida com discernimento, equilíbrio e sabedoria, reconhecendo que a igreja não pode se ausentar da arena pública, mas também não pode confundir missão espiritual com militância partidária.

Portanto, a igreja é chamada a ocupar seu espaço na sociedade, influenciando-a positivamente, sem negociar seus valores eternos nem ceder ao pragmatismo. Cabe ao cristão ser voz profética, critério de luz em meio às trevas, exemplo de integridade e esperança. Afinal, somente quando a política é iluminada pela fé é que ela deixa de ser instrumento de corrupção e se torna instrumento de justiça.

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