Crônica: Morador do alto


Vladimir Chaves

Na cidade onde tudo se vende e se compra, da verdade ao silêncio, há um bairro que fica no alto, perto do céu, bem acima do barulho das buzinas, dos acordos de conveniência e das conversas afiadas. É o bairro do Santo Monte. Tem uma vista maravilhosa, mas pouca gente consegue subir. Não é por falta de esforço, é por falta de critério.

Dizem que ali mora gente santa. Gente que é inteira mesmo em tempos de metades. Gente que anda por aí com a consciência como travesseiro e a verdade na ponta da língua, mas não para ferir, e sim para curar. Eles não compram reputações nem vendem caráter. Falam pouco, mas quando falam, sustentam. Mesmo que custe caro, mesmo que doa.

Esses moradores não têm ficha suja nem coração manchado. Não se alimentam de fofocas, nem usam a língua como faca. Quando veem alguém tropeçar, não riem. Quando percebem o mal, não aplaudem. E quando olham para o alto, não enxergam um juiz severo, mas um Deus presente, digno de reverência.

Ali não se aceita suborno. Nem em dinheiro, nem em favores. Ali, justiça não tem preço e honra não tem etiqueta. O estranho é que, mesmo vivendo num mundo tão instável, esses moradores não se abalam. Pode vir o vento que for, pode tremer tudo ao redor, eles permanecem.

Talvez seja isso que o salmista tentou dizer. Que habitar o Santo Monte é mais do que uma promessa futura, é um convite para viver, aqui e agora, com os pés no chão e o coração no alto.

E então, quem habitará ali?

Talvez quem não apenas leia o Salmo 15, mas se torne parte dele.

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