O médico veterinário
Ricardo Fehr Camargo, de 39 anos, foi obrigado a suspender os mutirões de
atendimento gratuito que dava todo sábado a cães e gatos de pessoas carentes em
sua clínica, em São Carlos, interior de São Paulo. O Conselho Regional de
Medicina Veterinária (CRMV-SP) o advertiu que a ação beneficente contraria o
código de ética da profissão e o ameaçou com sanções. Ele será processado e
pode até perder o registro profissional. Como Camargo não possui uma ONG ou
entidade semelhante, o atendimento não é considerado de utilidade pública
perante o regulamento da classe.
Inconformado, Camargo
postou nas redes sociais um vídeo gravado no momento em que ele foi abordado
pela fiscal do CRMV. Ela fez várias advertências e entregou a ele um código de
ética. A postagem 'viralizou' e chegava a 6 milhões de acessos na tarde desta
terça-feira, 2. “Quando a fiscal chegou, pensávamos que ela ia nos dar um
prêmio pelo nosso trabalho”, contou a mulher do veterinário, Aline Garcia
Pereira, bióloga e doutora em Ciências.
Aline ajudava o marido nos
mutirões que atendiam média de 30 animais por sábado. “Atendíamos das 9 da
manhã às 8 da noite com toda a atenção, como se fosse uma consulta particular.”
Segundo ela, durante a semana era feita uma triagem para ver a gravidade e se
os donos do animal não tinham condições de pagar. Anteriormente, o casal
realizava mutirões em bairros carentes. “A gente armava uma tenda e havia até
fila, mas alguém alertou que não poderíamos atender em espaços abertos, por
isso mudamos para a clínica”, contou Aline.
Ativistas postaram uma
petição pública em rede social pedindo que o CRMV libere os veterinários
autônomos para dar atendimento gratuito a animais de pessoas carentes, já que
esse serviço não é oferecido pelo governo. Até a tarde, 28,5 mil pessoas tinham
assinado. Para o ativista Maurício Varallo, da ONG Olhar Animal, a invocação do
código de ética pelo Conselho para vetar a ação de veterinários é absurda. “E a
ética na relação com o público e, principalmente, com os animais?”, indagou.
Segundo ele, a questão é de reserva de mercado e de faturar com a doença.
Varallo lembra que, em Santa Catarina, a Justiça entendeu como ilegal uma ação
do CRMV daquele Estado que vedava mutirões gratuitos.
Processo. O Conselho
Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CFMV-SP) informou em nota que o
profissional foi autuado e tem 30 dias para regularizar sua situação antes de
receber qualquer multa. O caso será analisado e poderá ser instaurado processo
ético profissional contra Camargo. As penalidades vão desde advertência
confidencial até a cassação do registro profissional. De acordo com o CRMV, a
clínica está irregular por não ter registro no órgão e ele não poderia sem
sequer atender regularmente. Para atender gratuitamente, o médico veterinário
precisa ainda estar vinculado a uma sociedade civil, entidade, ONG ou
instituição de utilidade pública.
Confira o vídeo o momento em que a fiscal do CRMV-SP notificava o veterinário:
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